Parque temático coloca as crianças a simular que são “gente grande”. Algumas foram militares – será uma estratégia eficaz?
O Governo tem um espaço na Kidzania, um parque temático dedicado às crianças e jovens.
A Kidzania, na Amadora, é dirigido a crianças dos 3 aos 15 anos e leva os mais novos a brincar como gente grande, ou a “brincar aos adultos”.
Esta marca global de entretenimento educativo, que nasceu no México, apresenta um ambiente altamente realista, em representação de uma cidade construída à sua escala. Com foco em valores e regras da cidadania.
Ou seja, aqui as crianças podem fingir que são polícias, bombeiros ou empregados de mesa, entre outras profissões. E têm por exemplo os kidZos, a moeda oficial deste “planeta”, e assim as crianças gerem o seu próprio dinheiro.
A KidZania informa que estabelece relações comerciais com marcas selecionadas, para apoiar a criação de experiências únicas para crianças.
Uma dessas parcerias foi feita com o Governo. Mais concretamente com o Ministério da Defesa.
A KidZania tem um espaço dedicado às Forças Armadas desde Julho do ano passado.
Na altura, o ministério que era liderado por Helena Carreiras explicou que as crianças simulam que são militares da Marinha, do Exército e da Força Aérea, com recurso a um meio de cada Ramo – simulação de navio, uma viatura de transporte e um helicóptero, num cenário de apoio à população.
Ricardo Araújo Pereira recuperou agora esse assunto na SIC, por causa das declarações recentes de Ana Isabel Xavier.
A Secretária de Estado da Defesa Nacional disse no Parlamento que o Governo está “empenhado” nesta iniciativa, recordando que no dia 5 de Outubro houve um evento para crianças naquele espaço. “E voltaremos muito brevemente”.
O humorista brincou: “Os nossos inimigos vão ficar todos borrados. Os nossos soldados também, mas têm fralda”.
Dúvidas, dúvidas…
Mais a sério, esta aproximação de crianças – algumas com 3 anos – a meios militares deixa várias dúvidas no ar.
A educadora Larissa Lacerda, também formada em psicologia, avisa que “como tudo na psicologia, não há uma resposta exacta sobre se é perigoso, ou se pode fazer, ou se faz bem”.
Em conversa com o ZAP, lembra que há especialistas que defendem que brincar com armas é ancestral, que sempre existiu como parte do brincar. Defendem que “é importante deixar brincar”.
Outros avisam que “é um risco, que não é necessário, que há outras formas de simulação, de brincar ao faz-de-conta”.
“Se deixarmos as crianças brincarem livremente e elas simulam armas, pegam em objectos e dizem que são pistolas… será que isso não é um modo saudável de expressar diversas coisas, inclusive simularem conflitos, lidarem melhor com eles, elaborar coisas importantes?”, questiona Larissa.
E as dúvidas multiplicam-se: “Será que, se ela tiver de forma consistente, no dia-a-dia, uma educação para a paz, isso vai ter peso? Que ambiente é que essa criança vive, que referências ela tem? Será que um dia a brincar, a fingir que é soldado, vai fazer diferença?”.
Porque, para um adulto, “é difícil perceber como a criança lida com aquilo porque o adulto tem uma lógica diferente da lógica infantil”.
“Acho que a discussão aí deve ser mais sobre o papel do adulto nisso. O que ele faz, como incentiva, se incentiva e porquê”, reforça.
Precisamente pegando por aí, o site Parents deixa um sinal de alerta em relação ao futuro, ao eventual perigo: muitas crianças não conseguem distinguir uma arma real de um brinquedo. Um estudo descobriu que menos de metade das crianças conseguia identificar correctamente uma arma real quando esta era aparecia junto a uma arma de brinquedo.
A boa notícia é que, quando se trata de criminalidade, os estudos realizados até agora não indicam que brincar com armas torne as crianças mais violentas.
E a Classe-Média Portuguesa no desemprego, na pobreza, e na miséria, a pagar toda esta palhaçada, chama-se a isto uso indevido de Dinheiros Públicos.