“Não houve uma palavra sobre as vítimas”. Juiz “perplexo” com D. José Ornelas

Paulo Novais/LUSA

José Ornelas, Virgilio Antunes e Manuel Barbosa na conferência de imprensa da CEP

O juiz conselheiro Laborinho Lúcio, que fez parte da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, diz ter ficado “perplexo” com a reação de D. José Ornelas às conclusões da comissão.

“Foi de uma absoluta perplexidade, mesmo com alguma dificuldade de compreender a razão que estaria por trás daquilo. […] A reunião da manhã iniciou-se com uma intervenção de D. José Ornelas extraordinariamente assertiva, relativamente ao que era necessário fazer. Não vimos uma palavra sobre as vítimas. Não vimos uma palavra sobre a própria posição da Igreja relativamente a este tema”, disse Laborinho Lúcio à Rádio Observador.

O juiz garante ainda que os bispos têm dados mais do que suficientes para atuarem de forma preventiva afastando de funções os suspeitos de abusos sexuais a menores.

D. José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal, é novamente suspeito de ter encoberto o padre Abel Maia, quando este era o principal responsável do antigo seminário dos Dehonianos dos Montes Claros, em Coimbra.

Este é já o terceiro caso de encobrimento detetado que envolve D. José Ornelas. No entanto, é o único que nunca foi entregue à justiça nem à comissão independente, segundo a TVI. Abel Maia continua no ativo.

Em comunicado, a Conferência Episcopal defende que “enquanto exerceu funções na Província Portuguesa dos Dehonianos, o senhor D. José Ornelas não teve conhecimento de qualquer situação de abusos sexuais de menores no Instituto Missionário do Sagrado Coração em Coimbra”.

Além de “não ter conhecimento de qualquer abuso”, lê-se no comunicado, “D. José Ornelas não pode ter estado presente em Coimbra, porque se encontrava a preparar o seu doutoramento em Roma (1992) e na Alemanha (entre 1993 e 1997)”.

Em entrevista ao programa Hora da Verdade do Público/Renascença, o bispo Américo Aguiar diz que toda a Igreja é “herdeira de uma culpa” e argumenta que os bispos que tenham encoberto casos de abuso “têm de sofrer consequências”.

ZAP //

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