Lena d’Água recorda o que era “ser muito pop” nos anos 80. Pedir música de José Mário era difícil; comprar discos ainda mais.
Ouvimos os singles Robot, ainda do tempo dos Salada de Frutas; depois o eterno Sempre que o amor quiser ou ainda Dou-te um doce.
Lena d’Água nunca teve receio de ser pop. E ainda hoje não se esconde do género que, noutros tempos, era (ainda mais) desvalorizado.
A cantora recordou na Blitz que, nos anos 80, quando se dizia “és muito pop”, era atirar a pessoa para a “segunda divisão” da música.
Os músicos centrados no pop chegaram a ser classificados como os “lacaios do imperialismo anglo-saxónico”.
Tudo que não fosse, primeiro música de intervenção, e depois música de recolha das raízes portuguesas, era “chutado para o canto”.
Ouvir José Mário
Logo depois do 25 de Abril, como se sabe, as músicas de intervenção dominavam as rádios. “Eram uma grande seca, sempre o Camarada Vasco. Era cansativo”.
“Já não era o José Mário-Branco“, lamenta (esta entrevista foi realizada antes da morte de Fausto).
Lena lembra que ainda viveu antes de 1974 – nasceu em 1956 – e por isso ainda sentiu o que era viver no Estado Novo.
Comprou os primeiros discos de José Mário Branco, Sérgio Godinho e Zeca Afonso numa cave, num alfarrabista em Lisboa, no meio de artigos de segunda mão. “Senão, apareciam os outros senhores (PIDE) que levavam aquilo tudo para armazém”.
No meio da conversa, aparece uma recordação reveladora: “Cheguei a telefonar para a rádio, a pedir uma música do José Mário Branco. O senhor que me atendeu disse: ‘Esse senhor não é português’“.
Voltando à origem desta sequência, a música pop, Lena d’Água acha que não há estagnação na música pop em Portugal.
“Ainda temos aí grandes coisas a acontecer”, salientando um grupo: Capitão Fausto. “É uma coisa linda. Adoro aquilo. Não tem tempo. Aquele som não tem tempo”, descreveu.