Jonestown foi palco do maior suicídio coletivo da história. Agora, pode ser ponto turístico

Mosedschurte / Wikimedia COmmons

A entrada da comuna de Jonestown

A Guiana está a ponderar transformar um dos lugares mais negros da história num ponto turístico. É uma espécie de “Auschwitz e o museu do Holocausto” ou um “interesse lascivo pela tragédia”?

É uma viagem que só pode ser feita de barco, helicóptero ou avião; os rios, em vez de estradas, ligam o interior da Guiana.

Uma vez lá, é necessário percorrer mais seis quilómetros através de um trilho de terra batida coberto de vegetação até à comuna abandonada e antiga povoação agrícola. É um local sombrio e perigoso, mas pode vir a deixar de o ser, de acordo com a CNN.

“Achamos que já era tempo”, disse, Rose Sewcharran, diretora da Wonderlust Adventures, o operador turístico privado que planeia levar visitantes a Jonestown, “Isto acontece em todo o mundo. Temos vários exemplos de turismo sombrio e mórbido em todo o mundo, incluindo Auschwitz e o museu do Holocausto.”

“Tem certamente o meu apoio”, garantiu a ministra do Turismo, Oneidge Walrond. “É possíve”, mas garante que pode existir “algum nível de resistência”.

A comuna de Jonestown assistiu, em 1978, a um dos maiores desastres da história. 909 pessoas morreram, num ritual de suicídio coletivo, onde um terço das vítimas eram crianças.

O responsável que incitou às mortes era o reverendo norte-americano Jim Jones.

Jordan Vilchez, que cresceu na Califórnia e foi transferida para a comuna do Templo do Povo, nome “oficial” de Jonestown, aos 14 anos (tem agora 67), disse à AP, numa entrevista por telefone dos EUA, que tem sentimentos contraditórios sobre a visita.

“Por outro lado, sinto que qualquer situação em que as pessoas foram manipuladas para morrer deve ser tratada com respeito“, por outro, sente-se no direito de lucrar com o turismo do local.

Perdeu membros da sua família, e contou que sobreviveu ao desastre por um dia. Enterrou mesmo na comuna abandonada, onde morreram as suas irmãs e sobrinhos, pedaços de cabelo da sua mãe e do seu pai, que não foram para Jonestown, como homenagem.

Já o professor de direito Neville Bissember rejeita completamente a proposta. “Que parte da natureza e da cultura da Guiana está representada num local onde a morte por suicídio em massa e outras atrocidades e violações dos direitos humanos foram perpetradas contra um grupo submisso de cidadãos americanos, que nada tinham a ver com a Guiana nem com os guianenses?”

Gerry Gouveia, piloto, defende as visitas guiadas ao local: “a área deveria ser reconstruida apenas para que os turistas conhecessem em primeira mão a sua configuração e o que aconteceu”, disse. “Deveríamos reconstruir a casa de Jim Jones, o pavilhão principal e outros edifícios que lá existiam.”

Mas há outros impedimentos, inclusivamente do foro económico. “Ainda é uma área muito, muito, muito difícil”, disse Fielding McGehee, co-diretor do Instituto Jonestown, um grupo sem fins lucrativos.

“Não vejo como este será um tipo de projeto economicamente viável devido às enormes quantias de dinheiro que seriam necessárias para o transformar num local viável para visitar.”

McGehee observou ainda que o “turismo negro” é popular, e ir a Jonestown significa que os turistas podem dizer que visitaram um lugar onde mais de 900 pessoas morreram no mesmo dia. “É o interesse lascivo pela tragédia“, disse ele.

ZAP //

Siga o ZAP no Whatsapp

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.