Jogos Olímpicos: futebol masculino só para sub-23… porquê?

Srdjan Suki / EPA

Gonçalo Paciencia marcou o primeiro golo da selecção nacional nos Jogos Olímpicos Rio 2016

Exibição, interrupção, amadores e Estado: o torneio olímpico de futebol masculino já passou por muitas situações, ao longo de mais de um século.

Ainda antes da cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio – e como acontece há algum tempo – vão ser realizados os primeiros jogos de futebol dos torneios feminino e masculino.

As mulheres inauguram o programa nesta quarta-feira e, na quinta-feira, é a vez de os homens entrarem em ação. Logo no primeiro dia haverá um Brasil-Alemanha, os dois países que estiveram na final da última edição, em 2016, no Rio de Janeiro.

O torneio feminino não tem restrições no que toca a idades mas o masculino tem: só podem jogar futebolistas com 23 anos ou menos (na edição deste ano haverá vários futebolistas com 24 anos porque o torneio deveria ter sido disputado em 2020), podendo ser convocados somente três atletas mais velhos. Porquê?

Resumimos aqui o currículo do futebol masculino nos Jogos Olímpicos.

1900, Paris: a segunda edição dos Jogos Olímpicos foi a primeira a contar com um torneio de futebol, embora apenas de exibição, quase experiência. Participaram três clubes, não seleções nacionais. Quatro anos depois o formato foi o mesmo.

1908, Londres: a estreia das seis seleções nacionais – incluindo duas francesas, a França e a França B. Só seleções europeias, tal como em 1912, mas em Estocolmo já participaram 11 seleções. Só em 1920, Antuérpia, estreou-se uma seleção que não era europeia: o Egito, uma das 14 participantes. Turquia (representava a Ásia), Uruguai e Estados Unidos da América juntaram-se quatro anos depois, no regresso a Paris. E aí, em 1924, já eram 22 seleções presentes – mais seis do que agora.

1928, Amesterdão: fica aqui o registo da primeira participação de Portugal neste torneio. Os portugueses ainda venceram os dois primeiros jogos, diante de Chile e Jugoslávia, mas foram afastados da luta pelas medalhas ao serem derrotados nos quartos-de-final contra o Egito.

1930, Uruguai: não, não houve Jogos Olímpicos neste ano mas houve Mundial de futebol, pela primeira vez. E este torneio alterou as regras. A FIFA avançou com o seu próprio torneio internacional e o futebol ficou fora dos Jogos Olímpicos em 1932, para evitar “concorrência”.

Mais tarde a FIFA e o Comité Olímpico Internacional chegaram a acordo e, a partir de 1936, em Berlim, só futebolistas amadores poderiam estar nos Jogos Olímpicos.

Amadores ou…profissionais que fossem apoiados/patrocinados pelo Estado. E esta alínea fez diferença. Reparemos nos vencedores da medalha de ouro desde 1952 até 1980: Hungria (três vezes), União Soviética, Jugoslávia, Polónia, República Democrática da Alemanha e Checoslováquia.

As regras para o torneio ficaram mais estáveis a partir dos anos 30. Houve uma novidade em 1960, em Itália: a fase de grupos. Tal como hoje, 16 seleções foram divididas em quatro grupos. Mas não havia quartos-de-final na altura; só ficava apurado o vencedor de cada grupo, que seguia para as meias-finais. O formato atual estreou-se quatro anos mais tarde, curiosamente no Japão.

1984, Los Angeles: o domínio de seleções do Leste da Europa terminou em 1980 porque, a partir de 1984, alguns profissionais também poderiam ser convocados para os Jogos Olímpicos – mas não poderiam ter mais do que cinco jogos pela sua seleção principal. Ou seja, a FIFA quis novamente evitar que jogadores que estivessem em Mundiais também fossem aos Jogos Olímpicos.

1992, Barcelona: essa regra só foi aplicada em duas edições porque, a partir de 1992 e até hoje, só são convocados sub-23.

1996, Atlanta: num torneio em que Portugal chegou às meias-finais e ficou no quarto lugar, e que marcou a estreia do torneio feminino de futebol, três jogadores com mais de 23 anos puderam ser chamados pela primeira vez.

As únicas seleções africanas campeãs olímpicas surgiram após este torneio ser quase reservado para os mais jovens: Nigéria em 1996 e Camarões em 2000.

Nuno Teixeira, ZAP //

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