Jerónimo apela à resistência, critica PS “inclinado para a direita” e deixa encargos para o sucessor

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Tiago Petinga / Lusa

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa.

Na sua última intervenção como líder do Partido Comunista Português (PCP), Jerónimo de Sousa apontou a “campanha antidemocrática” contra o partido e deixou um caderno de encargos ao sucessor Paulo Raimundo, que será eleito em Comité Central ao final desta tarde de sábado.

“Sabemos dos impactos negativos nos planos eleitorais, da expressão institucional, das nossas dificuldades, das nossas insuficiências e atrasos que estão identificados e importa superar”, assumiu perante os seus camaradas, que o aplaudiram quando entrou no Pavilhão Alto do Moinho, em Corroios, Seixal, na Conferência Nacional que marcará a mudança de liderança para as mãos de Paulo Raimundo.

Jerónimo, que deixa as funções no partido após 18 anos, reafirmou os princípios do PCP e disse que o partido é vítima “de campanhas de deturpação” de “calúnias e tentativas de chantagem”.

“A classe dominante – os senhores do mando do país – ambicionaria que, perante a ofensiva, o partido tivesse soçobrado e abdicado dos seus princípios, se submetesse a sua agenda e aos seus critérios. Que escondesse ao povo a verdade sobre os aproveitamentos da pandemia, as opções de classe do PS, os projetos das forças reacionárias, a natureza da NATO, a guerra e as sanções. Enganaram-se e vão continuar enganados!”, afirmou.

Jerónimo acusou a governação de maioria absoluta de mostrar “um PS cada vez mais inclinado para a direita” e considerou que os socialistas, PSD, CDS e IL e Chega encenam e empolam divergências.

“Hoje está muito claro qual é o sentido da governação do PS maioritário e quão verdadeira era a palavra do PCP quando afirmava que o PS não queria resolver os problemas nacionais, mas tão só romper com a política de defesa, reposição e conquista de direitos e criar condições para retomar na plenitude a política de direita que sempre teve como sua”, acusou.

Para Jerónimo, a governação socialista faz opções de política económica e orçamental que conduzirão ao “perigo de uma nova fase de definhamento económico e e degradação social”. “As recentes alterações do quadro político” vão “replicar, senão aprofundar a evolução negativa do país que décadas de política de direita impuseram”, notou.

E a maioria absoluta que António Costa alcançou nas eleições legislativas de janeiro só foi alcançada com uma “operação de chantagem e mistificação” – o partido passou de 12 deputados eleitos em 2019 para 6 em 2022.

Além do “embuste do aumento das reformas”, da “farsa da revalorização salarial” do chamado Acordo de Rendimentos, da “retoma do processo privatizador da TAP”, o líder comunista cessante atacou o processo de revisão constitucional em curso e para o qual também contribuiu com um projeto de lei.

“É explicito e crescente o confronto com a Constituição portuguesa por parte de forças reacionárias com o objetivo da sua revisão e subversão”, apontou.

Mesmo de saída da liderança, Jerónimo deixou um caderno de encargos para o país e para o novo secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo. Das “lutas” para Portugal: aumento dos salários; promoção dos direitos das crianças e pais; bater-se por melhores condições de vida da juventude; valorização das reformas e das funções sociais do Estado, entre outras.

O “reforço” do partido foi a grande mensagem. Jerónimo apontou a “formação de quadros”, o recrutamento de novos militantes, um maior intervenção junto “da classe operária” e a promoção de “uma ampla iniciativa a partir das organizações locais do partido”.

No plano da imprensa, sublinhou a campanha em torno do órgão oficial do PCP, O Avante!, a iniciar em abril de 2023, para aumentar a promoção e venda do jornal.

No plano internacional, considerou “urgente” o “fim da instigação da guerra na Ucrânia por parte dos EUA, da NATO e da UE”, com a consequente “abertura de vias de negociação” entre ucranianos e russos. A esse respeito, criticou a “extraordinária submissão e dependência” da União face aos norte-americanos.

A “estratégia militarista” dos EUA, considerou, patente nos sucessivos alargamentos da NATO, é a grande responsável pela “escalada da política de confrontação” a nível mundial. A “crescente tensão e provocação contra a China” acarreta “o perigo de uma confrontação global com graves consequências para a humanidade”, alertou.

Jerónimo de Sousa declarou, na despedida, que “o vento está duro e muito forte, fustiga-nos o rosto, mas nunca hão de ver o vento a apanhar-nos de costas, porque estaremos sempre virados para a frente, em torno do nosso projeto, do nosso ideal, do nosso partido”.

A Conferência Nacional do PCP, a quarta em 100 anos, foi organizada com o objetivo de reenquadrar a ação do partido em contexto de maioria absoluta do PS, aumento da inflação e consequente degradação das condições de vida da generalidade da população, e também de incerteza em relação ao redesenho do mapa geopolítico internacional.

ZAP //

3 Comments

  1. É incrível, como falam para os camaradas como se fossem cegos, surdos, atrasados mentais, como se não tivessem de esperar meio ano para poder usufruir do aumento extraordináriao nas reformas, como se não tivessem reprovado um bom orçamento, como se não traissem os trabalhadores e reformados, como se não prejudicassem os trabalhadores com as suas lutas políticas, reagem tal e qual como o Putin.

  2. Na Rússia o comunismo já morreu há muito. Qual a cegueira deste Jerónimo na subserviência ao hitleriano Putin? O PCP está morto, falta apenas enterrá-lo. E este Jerónimo pressente isso, por isso toca a fugir.

  3. Jerónimo perguntar não ofende: quando o tu e o teu PCOP s aliam com a Direita a A.R. a votar contra leis do PS, o PCP não vira á. Direita? Ou só quem pode aliar-se a Direita é o PCP? E não sou simpatizante de nenhum partido com assento na A.R., vai-te encher de moscas.

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