O Japão já foi a “terra do futuro”. Agora, está “preso ao passado”

No Japão, as casas são como carros. Assim que se muda, a sua nova casa começa a valer menos do que pagou. E, quando acabar de pagar o seu financiamento, depois de 40 anos, ela não vale quase nada.

O Japão é a terceira maior economia do mundo. É um país próspero e pacífico, com a maior expectativa de vida do mundo, a menor taxa de assassinatos, poucos conflitos políticos, um passaporte poderoso e o extraordinário Shinkansen – a melhor rede ferroviária de alta velocidade do mundo.

A Europa e a América do Norte já tiveram medo, um dia, do poderio económico japonês, da mesma forma que temem hoje a crescente economia da China. Mas o Japão que o mundo esperava nunca chegou.

No final dos anos 1980, os japoneses eram mais ricos do que os americanos. Hoje, ele ganham menos que os britânicos.

O Japão tem lutando há décadas com uma economia morosa, contida por uma profunda resistência a mudanças e uma teimosa ligação ao seu passado. E, agora, sua população está a envelhecer e a diminuir.

O Japão ficou estagnado.

O futuro estava aqui

Em 1993, o Japão parecia muito mais rico do que qualquer outro lugar na Ásia. A sua capital, Tóquio, é primorosamente limpa e organizada, em comparação com qualquer outra cidade asiática.

Enquanto Hong Kong e Taiwan eram os adolescentes da Ásia, o Japão já era um adulto. Sim, Tóquio era uma selva de pedra, mas belissimamente bem cuidada.

O Japão reergueu-se da destruição da Segunda Guerra Mundial e conquistou a indústria global. O dinheiro voltou para o país, trazendo um boom imobiliário que fazia com que as pessoas comprassem qualquer propriedade que estivesse disponível – até terrenos florestais.

Mas, em 1991, a bolha estourou. A bolsa de valores de Tóquio entrou em colapso. Os preços dos imóveis despencaram e não recuperaram até hoje.

Quando pensamos nos elegantes comboios de alta velocidade do Japão ou na maravilhosa fabricação em linha de montagem da Toyota, podemos facilmente pensar que o Japão é o modelo da eficiência. Mas não é. A burocracia pode ser assustadora e enormes montantes de dinheiro público são gastos em atividades de utilidade duvidosa.

Esta é uma indicação dos motivos que levaram o Japão a ter a maior dívida pública do mundo. E essa conta astronómica é agravada por uma população envelhecida que não se consegue reformar devido à pressão (de cortes) sobre as pensões e o sistema de saúde.

O fator externo

O Japão foi forçado a abrir suas portas 150 anos atrás. E, até hoje, o país é cético e até temeroso sobre o mundo exterior.

Os vilarejos podem estar a caminho da extinção, mas a ideia de que podem ser invadida por “gente de fora” parece ainda pior.

Um terço da população japonesa tem mais de 60 anos de idade. Por isso, o Japão abriga a segunda população mais idosa do mundo, perdendo apenas para o minúsculo principado de Mónaco. O país tem registado cada vez menos nascimentos e pode perder um quinto da sua população atual até 2050.

Mesmo assim, a hostilidade à imigração não desapareceu. Apenas cerca de 3% dos moradores do Japão nasceram no exterior, em comparação com 15% no Reino Unido. Na Europa e na América do Norte, os movimentos de extrema-direita apontam para o Japão como um exemplo de pureza racial e harmonia social.

Mas o Japão não é tão etnicamente puro como os seus admiradores podem acreditar. Existem os ainus da ilha de Hokkaido, os nativos de Okinawa no sul, meio milhão de coreanos e perto de um milhão de chineses. E existem os filhos de casais japoneses em que um dos pais é estrangeiro.

Estas crianças filhas de duas culturas são conhecidas como “hafu” – “metades“, um termo pejorativo que é de uso normal. Entre os hafus estão celebridades e ídolos do desporto, como a estrela do ténis Naomi Osaka.

A cultura popular idolatra-os como “mais belos e talentosos”. Mas uma coisa é ser idolatrado e outra, bem diferente, é ser aceite.

Se quiser saber o que acontece num país que rejeita a imigração como solução para a queda da fertilidade, o Japão é um bom lugar para começar. Os salários reais não aumentam há 30 anos.

Mas as mudanças ainda parecem distantes – em parte, devido à rígida hierarquia que determina quem mantém as cadeias de poder.

Os antigos ainda governam

Algumas pessoas brincam que o Japão é um Estado de um partido só, o que não é o caso. Mas é razoável perguntar por que o Japão continua a reeleger um partido regido por uma elite poderosa, que deseja descartar o pacifismo imposto pelos Estados Unidos, mas não conseguiu melhorar as condições de vida em 30 anos.

Costuma-se dizer que as bases de apoio do PLD são feitas de cimento. Esta forma de política clientelista é uma razão por que, em grande parte do litoral do Japão, existem tantos tetrápodes (também conhecidos como pés-de-galinha), enormes blocos de cimento colocados ao lado de estruturas para proteger da ação das ondas marinhas, e também porque tantos rios têm paredes de cimento. É para manter ativa a indústria do cimento.

Os redutos rurais são agora fundamentais devido à demografia do Japão. Deviam ter reduzido, à medida que milhões de jovens se mudavam para as cidades grandes em busca de trabalho, mas não foi o que aconteceu.

Para o PLD, isso é bom porque significa que os votos rurais e idosos contam mais. Quando esta geração mais idosa passar, as mudanças serão inevitáveis.

Os jovens japoneses estão menos dispostos a se casar ou ter filhos. Mas eles também têm menos inclinação a aprender idiomas estrangeiros ou estudar no exterior do que os seus pais ou avós. As mulheres ocupam apenas 13% dos cargos de gerência no Japão – e elas representam menos de 10% do total de parlamentares.

E quanto ao futuro?

O futuro do Japão trará lições para todos nós. Na era da inteligência artificial, menos trabalhadores podem significar inovação. Os agricultores idosos podem ser substituídos por robôs inteligentes. Grande parte do país pode voltar a ser selvagem.

Irá o Japão gradualmente cair para a irrelevância ou conseguirá reinventar-se?

ZAP // BBC

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