Irão: 650 alunas envenenadas em diferentes escolas

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Um levantamento da BBC concluiu que pelo menos 650 alunas foram envenenadas no Irão – o que finalmente foi reconhecido, no domingo, por uma autoridade do país.

Nenhuma estudante morreu, mas dezenas foram internadas com problemas respiratórios, náuseas, tonturas e fadiga.

“Ficou evidente que algumas pessoas desejavam que todas as escolas, especialmente as femininas, fossem fechadas”, disse o vice-ministro da Saúde do Irão, Younes Panahi, numa conferência de imprensa no fim de semana.

A única declaração oficial até então havia sido a do procurador-geral, indicando que tinha sido aberta uma investigação criminal sobre os envenenamentos e que as intoxicações poderiam ser “intencionais”.

Nos últimos três meses, várias alunas relataram sentir cheiro de tangerina ou peixe podre antes de adoecer.

“Os produtos químicos usados não são de esfera militar e estão disponíveis ao público”, acrescentou Younes Panahi. “As estudantes não precisam de nenhum tratamento invasivo e é preciso manter a calma”, referiu.

O vice-ministro e médico disse posteriormente que a sua declaração foi “mal interpretada” – um sinal de divisões entre as autoridades iranianas sobre como gerir a crise, enquanto nenhum culpado foi identificado publicamente.

A cidade religiosa de Qom está no epicentro do envenenamento em massa, mas ataques ocorreram em até oito cidades iranianas.

O primeiro envenenamento ocorreu a 30 de novembro de 2022, quando 18 alunas da escola técnica de Nour, em Qom, foram levadas ao hospital após apresentarem sinais de envenenamento. Desde então, mais de dez escolas femininas foram atacadas na região.

Em meados de fevereiro, pelo menos 100 pessoas protestaram em frente ao gabinete do governador em Qom. Alguns pais contaram que as suas filhas ficaram doentes durante semanas após o envenenamento.

Qom é lar de importantes líderes religiosos do islamismo xiita, a espinha dorsal da República Islâmica. Mas o seu poder foi desafiado desde a morte de Mahsa Amini, em setembro do ano passado. A jovem estava sob custódia da polícia por, supostamente, não usar o “adequadamente” ‘hijab’.

Alguns iranianos perguntam-se se o envenenamento das jovens é uma “vingança” pelo papel que estas desempenharam nos protestos contra o governo após a morte de Mahsa Amini.

Há também quem sugira que os ataques são obra de defensores de linha-dura, que querem “copiar” o Talibãs no Afeganistão e o grupo militante islâmico Boko Haram na Nigéria, aterrorizando os pais para que parem de enviar as suas filhas à escola.

O regime iraniano refuta as críticas à sua conduta em relação às mulheres e vangloria-se do número de mulheres que frequentam as universidades. Mas se as jovens não terminam a escola, a faculdade é apenas um sonho distante.

Os comentários de uma estudante – que diz ter sido envenenada duas vezes – na reunião com o governador de Qom destacaram como algumas das declarações das autoridades foram vagas e enganosas.

“Eles [as autoridades] dizem-nos que está tudo bem, que foi feita uma investigação. Mas quando o meu pai foi à minha escola, foi dito que o circuito interno de TV está inoperante há uma semana e não há como investigar”, disse a estudante.

“E quando fui envenenada pela segunda vez no domingo, o diretor da escola disse: ‘Ela tem um problema cardíaco, é por isso que está hospitalizada’. Mas eu não tenho nenhum problema cardíaco!”, declarou ainda.

2 Comments

  1. Que gente abjecta, que comete crimes contra a humanidade (incluíndo os seus vizinhos e compatriotas) em nome de uma religião (seja ela qual for)!

  2. De relembrar que o regime o poder já é dominado por quem crê que as mulheres não são para ir à escola. Logo o governo não é idóneo nem independente.

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