IPMA lança “caça ao tesouro” nas praias portuguesas

Jannaraabe / Flickr

Uma caravela-portuguesa

É mais uma “caça às medusas e às alforrecas” – o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) está à procura de voluntários para assinalar presença de seres gelatinosos nas praias portuguesas (mas não lhes pode tocar!).

O IPMA promove, este sábado, o “Dia GelAvista”, convidando os portugueses a comunicar avistamentos ou não avistamentos de organismos gelatinosos, nas praias onde estiverem.

A participação pode ser feita através da aplicação GelAvista ou pelo mail [email protected].

O objetivo é compreender melhor a situação dos organismos gelatinosos, como medusas ou caravelas-portuguesas. Ambos são dos animais mais desconhecidos e representam um dos maiores desafios no estudo do ambiente marinho.

“Queremos que as pessoas nos digam o que estão a ver por todo o país, e se a pessoa estiver numa praia e não encontrar nada também pode dar essa informação”, explicou Antonina dos Santos, coordenadora do projeto, frisando que na dúvida de se trata ou não de uma gelatinosa deve enviar fotografia.

Em entrevista à Lusa, a investigadora explicou que essa informação, prolongada no tempo, é fundamental para perceber a evolução das gelatinosas no mar português. Porque, justificou, em várias regiões do mundo as gelatinosas estão a aumentar e esse aumento, segundo os cientistas, deve-se às alterações climáticas e ao aumento da temperatura da água, uma relação que em Portugal não é clara, até porque não existem dados suficientes.

Organismos em expansão

As gelatinosas, segundo a investigadora, deverão aumentar porque se dão bem com altas temperaturas, com condições de anoxia (falta de oxigénio) e com escassez de alimentos. E quando outras espécies diminuem, devido por exemplo à pesca, as gelatinosas podem ocupar esse espaço deixado livre.

Se tiverem condições, reproduzem-se rapidamente e em grande quantidade. As alterações climáticas podem potenciar esse crescimento (em número e rapidez).

A investigadora salientou que os surtos de aumentos são naturais e sempre ocorreram, mas acrescentou que quando os humanos fazem pressão nos ecossistemas podem provocar desequilíbrios e favorecer espécies, como as gelatinosas, levando-as a um aumento de tamanho e distribuição.

Expressamente proibido tocar

As gelatinosas são “um petisco” nalgumas regiões da Ásia e em Portugal são também servidas em alguns restaurantes, mas são mais conhecidas pela dor que provocam em contacto com a pele humana.

As caravelas-portuguesas são das gelatinosas mais perigosas para o ser humano em Portugal, já que além de provocarem dores intensas, e prolongadas, podem causar problemas cardíacos.

Antonina dos Santos explicou que, em caso de contacto, se deve evitar o pânico, lavar a zona afetada com água do mar, tirar cuidadosamente algum pedaço da gelatinosa que tenha ficado agarrado à pele e colocar compressa quente na zona da ferida. Não se deve tapar a ferida nem usar álcool.

A água-viva é outra gelatinosa comum no país, mais nos Açores e Madeira. Também provoca queimaduras ao contacto e no tratamento deve usar-se gelo.

E especialmente no Algarve surge por vezes a medusa-compasso, outra espécie urticante. Segundo a especialista, outras medusas são por norma menos urticantes, embora possam provocar ferida e dor.

A página online GelAvista tem informação sobre todas as gelatinosas.

No sábado, em Almada, em Angra do Heroísmo e na Praia da Vitória (ilha Terceira), e no Funchal sessões educativas e atividades para as famílias vão também prestar mais informação.

Antonina dos Santos acrescenta ainda que muitos concelhos afixaram junto das praias informação sobre as gelatinosas.

O programa GelAvista monitoriza desde 2016 organismos gelatinosos em Portugal, incentivando os cidadãos a contribuir para o avanço da ciência através da comunicação (com data, local e hora) dos avistamentos das espécies que ocorrem no país.

ZAP //

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