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Investigadores descobrem novas pistas sobre resistência à SIDA em macacos

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Investigadores norte-americanos sequenciaram o genoma do mangabei-cinzento para entender como é que esta espécie, quando é infetada pelo vírus da imunodeficiência símia, consegue evitar o desenvolvimento da doença.

O mangabei-cinzento (Cercocabus atys) é uma das espécies de primatas não humanos que, quando é infetado pelo vírus de imunodeficiência símia (VIS) – o equivalente ao VIH – não desenvolve a doença.

Uma equipa de investigadores dos EUA sequenciou o genoma da espécie e comparou-o com o genoma dos humanos e de outros primatas não humanos, como o macaco Rhesus. No artigo, publicado na semana passada na revista Nature, os cientistas destacam duas diferenças genéticas que podem ajudar a explicar a resistência destes macacos.

Os investigadores norte-americanos sequenciaram o genoma do mangabei-cinzento que, mesmo com uma elevada carga viral, consegue manter os níveis saudáveis de células imunitárias fazendo com que não desenvolva a doença.

Num comunicado de imprensa, citado pelo Público, Guido Silvestri, cientista no Centro Nacional de Investigação de Primatas de Yerkes, na Universidade Emory, diz que a equipa está “a aproveitar uma experiência da evolução que revela que é possível estar infetado com VIS sem que evolua para sida“.

Esta imunidade à SIDA – já encontrada noutros símios como o dril ou o macaco-verde – tem sido estudada pelos cientistas por não ser encontrada em humanos e porque contrasta com o que é observado noutros primatas não humanos, hospedeiros não naturais que ficam doentes quando são infetados pelo VIS, como o macaco Rhesus.

Ao comparar o genoma resistente com os dados dos humanos, do macaco Rhesus e de outros primatas não humanos, os cientistas encontraram “duas grandes diferenças em proteínas no sistema imunitário do mangabei-cinzento”, referiu David Palesch, investigador na Universidade de Emory e um dos principais co-autores do artigo.

Como avança o jornal, a primeira diferença foi encontrada na molécula ICAM2, que normalmente tem uma função na adesão intercelular no sistema imunitário. No mangabei-cinzento, há uma parte do gene ICAM2 em falta e isso faz com que a proteína não seja funcional.

No entanto, o “gene mais interessante” segundo Steve Bosinger, o outro co-autor principal do trabalho e investigador na Universidade de Emory, é o TLR4, que desempenha um papel importante no sistema imunitário, desencadeando geralmente uma reação inflamatória na presença de determinados elementos bacterianos.

“É um dos principais genes que controlam as respostas do sistema imunitário às bactérias e esta descoberta foi surpreendente porque a infeção por VIH/VIS e a SIDA é viral. Ainda mais interessante foi perceber que a mutação no TLR4 também estava presente noutras espécies que não têm SIDA”, explica ao Público.

Comparada com a do macaco Rhesus, o mangabei-cinzento tem uma versão diferente do gene TLR4 que faz com que haja uma redução da reação inflamatória.

“A infeção pelo VIH faz com que a parede do intestino fique danificada e, assim, a libertação de bactérias na circulação sanguínea provoca uma ‘ativação excessiva’ do sistema imunitário que acaba por conduzir à sida. Pensamos que esta mutação no Cercocebus atys permite que eles evitem essa ‘sobreativação’“, diz Palesch.

Steve Bosinger garante que estas diferenças também existem entre o macaco-cinzento e os humanos. Ainda assim, esta descoberta reforça a ideia de que em cada espécie de primatas existem vários mecanismos que podem contribuir para a proteção da doença, ao invés de apenas mutações em genes isolados.

“Sabemos que é provável que seja necessário mais do que uma mutação num único gene para uma espécie conseguir evitar a SIDA, mas as mutações que encontramos aqui são peças importantes do puzzle para conseguir prevenir e até mesmo curar a SIDA“, conclui Steve Bosinger.

ZAP //

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