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Hugo Abreu caiu da viatura e “não se mexeu mais”. Instrutor dos comandos viu e ignorou

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António Cotrim / Lusa

Rodrigo Seco afirmou que, no decurso da Prova Zero, os dois instrutores desvalorizaram os sintomas de mal-estar, sinais de cansaço e ignoraram os vários pedidos dos instruendos para que pudessem beber água.

Um dos instruendos do curso de Comandos em que morreram dois recrutas disse esta quinta-feira em tribunal que Hugo Abreu caiu no chão e “não se mexeu mais” quando subia para uma viatura, situação que foi presenciada e ignorada por um dos instrutores.

Dylan da Silva e Hugo Abreu, ambos com 20 anos na altura, morreram e outros nove instruendos sofreram lesões graves e tiveram de ser internados durante a denominada ‘Prova Zero’ (primeira prova do curso de Comandos) do 127.º curso de Comandos, que decorreu na região de Alcochete, distrito de Setúbal, a 4 de setembro de 2016.

Rodrigo Seco, um dos dez instruendos do grupo de graduados, do qual fazia parte Hugo Abreu, descreveu que no decurso da ‘Prova Zero’ os dois instrutores responsáveis por este grupo, Tenente Hugo Pereira e Primeiro-Sargento Ricardo Rodrigues, sempre desvalorizaram os sintomas de mal-estar, os sinais de cansaço e ignoraram os vários pedidos para que pudessem beber água.

Sempre que isso acontecia, os instrutores aplicavam “castigos” aos instruendos, como rastejar, fazer flexões, saltar para cima de silvas, fazer cambalhotas ou realizar marchas. Segundo o recruta, só podiam “beber água à ordem”, o que só aconteceu duas vezes, nas quais beberam três ou quatro tampas do cantil com água.

A testemunha contou que se sentiu mal por diversas vezes, com tonturas, boca seca, sensação de que estava tudo a andar à roda e com dificuldades em respirar, além de ter caído algumas vezes, sem forças, o que aconteceu com outros camaradas do mesmo grupo. Sempre que isso acontecia, os instrutores davam ordem para que continuassem a instrução.

Rodrigo Seco, que se constituiu assistente no processo e reclama 40.000 euros do Estado e dos 19 arguidos, todos Exército, do Regimento de Comandos, disse que pouco tempo depois de estar deitado na zona da carreira de tiro após se ter sentido mal, mais uma vez, à semelhança de outros dois instruendos, Hugo Abreu chegou àquela zona.

Estava vermelho, só cuspia saliva e ria-se”, relatou ao coletivo de juízes, presidido por Helena Pinto, acrescentando que “estava muito calor” durante a prova de tiro, que se realizou após o almoço, possivelmente entre as 12h00 e as 14h00.

Rodrigo Seco explicou que se deixou ficar deitado de olhos fechados, tendo ao seu lado outros dois camaradas que também se sentiram mal. todavia, quando abriu os olhos, viu o sargento Rodrigues “de cócoras” e à frente da cara de Hugo Abreu a dizer: “cospe lá agora, cospe lá agora”, sem conseguir precisar o que é que este instrutor fez.

Assim que o sargento se afastou, Hugo Abreu começou como se estivesse a “engasgar e com falta de ar”, descreveu o instruendo, e que, de seguida, o enfermeiro se dirigiu a Hugo Abreu e lhe atirou água para a zona da boca, parecendo que o estava a limpar. Rodrigo Seco disse ao coletivo apenas ter visto terra “à volta da boca” de Hugo Abreu e não no interior da mesma.

Quando quatro recrutas do grupo de graduados se preparavam para embarcar numa viatura militar, Hugo Abreu, que seguia pelo próprio pé, caiu no solo “e já não se mexeu mais”. O sargento Rodrigues terá assistido ao momento da queda.

De seguida, Hugo Abreu foi colocado no interior da viatura pelos restantes camaradas, onde já estavam outros quatro elementos deste grupo de dez recrutas. Nesse momento faltavam dois instruendos, que a testemunha disse não saber onde estavam.

Rodrigo Seco relatou depois que na viagem, Hugo Abreu, que estava deitado e tinha a cabeça amparada nas pernas de um dos recrutas, “começou a revirar os olhos” e não reagia. Um dos instruendos teve de colocar os dedos na boca de Hugo Abreu para que este “não enrolasse a língua” e que a boca foi mantida aberta com uma tampa de cantil.

Durante o percurso da carreira de tiro até à área das tendas, a viatura parou e o primeiro sargento Ricardo Rodrigues veio para junto dos recrutas, mas “não ajudou em nada”, segundo a testemunha, mesmo quando outro recruta que ia na viatura também caiu.

À chegada, os dois recrutas que estavam mal, incluindo Hugo Abreu, foram retirados pelos restantes camaradas e colocados no solo, ainda com os olhos fechados. De seguida, os três recrutas, um dos quais Rodrigo Seco, dirigiram-se para a área das tendas. “Foi a última vez que vi o Hugo Abreu”, declarou.

O óbito de Hugo Abreu viria a ser declarado na tenda médica do Campo de Tiro de Alcochete às 21h45 desse dia.

No final da sessão, o procurador do Ministério Público José Nisa, dirigiu-se à testemunha e disse que caso se sentisse ameaçado, para se dirigir ao MP para se tratar da sua segurança, o que levou a manifestações de desagrado por parte de alguns advogados dos arguidos.

A próxima sessão está agendada para 25 de outubro, na qual vão ser ouvidos os pais de Hugo Abreu e vai prosseguir a inquirição deste instruendo do 127.º curso de Comandos.

// Lusa

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2 Comments

  1. Venham agora os comentadores valentões dizer que a tropa não é para meninos e outras porcarias semelhantes. Isto para mim é homicídio e desprezo pela vida dos próprios camaradas.

  2. Chamam a isso instrutores? devem ser este tipo de seres abjectos que quando vão para uma guerra andam lá é a estropiar violar a executar barbaridades como pegar em crianças pelas pernas e bater com elas nas árvores e paredes ou pagarem cada um pelas pernas e rasga-las vivas. etc etc que era o que alguns faziam no ultramar, na Bósnia, Vietname e em muitas outras, se não em todas isto que escrevi está documentado e não é invenção.
    Chamam a isso instrutores.

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