A crise de poluição atmosférica na Índia tem agravado as desigualdades sociais, com os mais ricos a comprar purificadores de ar enquanto que os mais pobres sofrem com cada vez mais problemas de saúde.
Os meses de Inverno já costumam ser preenchidos para os médicos de Bombaim, mas a quebra súbita das temperaturas no oceano este ano tem atrasado os ventos que normalmente arrastam o pó, fumos e destroços da constução e aliviam os ares da cidade indiana.
Tudo isto levou a que a qualidade do ar na cidade piorasse ainda mais e levou a que ultrapassasse momentaneamente Nova Deli na lista das cidades mais poluídas do mundo.
“Muitos pacientes que nunca tiveram nenhum sintoma alérgico no passado estão agora a apresentar sintomas semelhantes a bronquite aguda“, explica a pneumologista Revathy K, à Wired.
O problema da poluição atmosférica na Índia não dá sinais de abrandar. Um relatório de 2022 concluiu que “quase a totalidade” dos 1,4 mil milhões de habitantes da Índia está a exposta a níveis de poluição acima das diretrizes da Organização Mundial de Saúde.
Em 2019, a poluição terá matado cerca de 1,6 milhões de indianos e o número de mortos ligadas ao PM 2.5 mais do que duplicaram nos últimos 20 anos.
Os esforços políticos para controlar o problema têm falhado. Em 2019, quando 102 cidades não cumpriam os critérios de poluição atmosférica, o Governo lançou o Programa Nacional de Ar Limpo. Menos de cinco anos depois, o número de cidades incumpridoras subiu para 132.
A falta de eficácia das acções políticas levou a que os cidadãos adotassem as suas próprias medidas. Os cidadãos mais ricos estão a pagar para respirar ar limpo, dando origem a mais um novo tipo de desigualdade económica e alimentando uma nova inúdstria onde se paga para respirar.
A compra de purificadores de ar tem explodido nos últimos anos e antecipa-se que a indústria cresça 35% e chegar aos 597 milhões de dólares até 2027. Os mais ricos compram purificadores para cada divisão da casa e preferem fazer compras em lojas e centros comercais com ar purificado.
As marcas já começam a apostar em estrelas de Bollywood ou atletas de cricket para fazer publicidade aos produtos e compram anúncios em jornais em inglês.
Mas este é um privilégio só de alguns. 60% da população da Índia vive com menos de 3,10 dólares por dia, abaixo da limiar da pobreza determinado pelo Banco Mundial. Os purificadores mais baratos custam cerca de 70 dólares.
“Estamos a normalizar um mundo que dificilmente valoriza a natureza e os direitos naturais – necessidades básicas como água potável, ar fresco e não poluído, espaço para caminhar para os pedestres, não fazem parte do planeamento urbano nem dizem respeito à nossa consciência coletiva“, defende Suryakant Waghmore, professor de sociologia no Instituto Indiano de Tecnologia em Bombaim.
Waghmore diz ainda que os purificadores purificam o ar para os mais ricos enquanto que o resto da população “é deixada na decadência a degradar-se”, uma divisão que vai ao encontro das desigualdades sociais na Índia em torno das castas sociais.
K, que trata regularmente aqueles que sofrem com a desigualdade da poluição do ar na Índia, coloca isso de forma mais sucinta. “Não acho que as pessoas devam conviver com isso. Se não se consegue algo tão básico quanto ar fresco, então qual é o sentido de viver no nosso país?”, questiona.