Um casal indiano decidiu, no início deste ano, fazer uma viagem pelo seu país para espalhar uma importante mensagem: “Parem de cuspir em público”.
Quem já teve oportunidade de conhecer a Índia sabe que cuspir em público é algo muito natural entre os homens e que as ruas estão cheias de “provas” disso mesmo, muito também por causa do hábito de mascar tabaco.
É por isso que há mais de dez anos que Raja e Priti Narasimhan, um casal que vive na cidade de Pune, fizeram sua a luta de tentar acabar com este terrível vício, conta a BBC.
Ao longo do tempo já tentaram de tudo, desde workshops, campanhas online e offline e apelos para que os municípios se esforcem mais na limpeza.
No início deste ano, o casal indiano decidiu até fazer uma viagem pelo país, com o objetivo de proteger as ruas e os edifícios destes “cuspidores públicos”. Munidos com um altifalante, espalharam a sua mensagem dentro de um carro também ele coberto com slogans “anti-cuspidelas”.
Como recorda a emissora britânica, a nível nacional, a batalha contra cuspir em público sempre foi tímida e, sobretudo, amplamente ignorada pelos indianos. Mas depois chegou o novo coronavírus, que com ele trouxe a covid-19.
Desde então, as autoridades indianas têm entrado em ação, sujeitando os “cuspidores” a multas mais pesadas e até a penas de prisão. E até o primeiro-ministro, Narendra Modi, aconselhou o povo a não cuspir em lugares públicos – algo que, nas suas palavras, “sempre se soube que era errado”.
Há quem o continue a fazer, mas há também quem tenha posto a mão na consciência. Narasimhan conta que algumas pessoas chegaram mesmo a pedir-lhes desculpa. “O medo da pandemia fê-los pensar”, justificou.
Mas, afinal, porquê cuspir em público? Segundo o casal, há vários motivos, desde “libertar a raiva” a “passar o tempo”, ou simplesmente porque se “sentem no direito” de o fazer. Em declarações à BBC, o historiador Mukul Kesavan também apontou outro: “a obsessão indiana com a poluição e de como se livrar dela”.
Alguns historiadores acreditam que esta obsessão está ligada aos conceitos do Hinduísmo e das castas superiores de manter a pureza corporal.
“Esta atitude transcende as questões de higiene. Uma vez, um motorista de táxi disse-me isto depois de cuspir: ‘Tive um mau dia e queria libertar isso cá para fora'”, contou Uddalak Mukherjee, editor da versão indiana do jornal The Telegraph.
Especialistas já alertaram que punir as pessoas, sem tentar entender o porquê de cuspirem, não vai resolver o problema. E a verdade é que, dois anos depois do aparecimento da pandemia, a luta para o travar já perdeu alguma força.
Mas Raja e Priti não vão desistir, até porque a maioria das pessoas continua a não saber que este hábito pode contribuir para a disseminação da covid-19.
“Não faz mal se estivermos a perder tempo, vamos tentar na mesma. Se conseguirmos uma mudança de atitude em pelo menos 2% das pessoas, então já fizemos a diferença.”