Empresários acreditam que haverá uma quebra na facturação já sentida na hotelaria. Mas vai chegar chegar aos outros sectores de actividade.
A economia da serra da Estrela vai sentir uma quebra. Os setores que não sentem no imediato, antevêem tempos difíceis, com o turismo à cabeça de uma economia regional, que volta a ter de enfrentar uma quebra.
A Associação Comercial da Serra da Estrela (ASCE) relata que já há “bastantes marcações” a serem canceladas nos hotéis da região.
Avança ainda que já se sentem os efeitos colaterais na restauração, dependente dos turistas que passam a noite nos concelhos da serra da Estrela. A partir daí, acontece um efeito em cascata que acaba por atingir toda a economia.
“Acaba por ser uma bola de neve, leva a que outros sectores sofram da mesma situação”, diz Luís Seabra, presidente da Associação Comercial da Serra da Estrela.
Em agosto, a vinda dos emigrantes acaba por atenuar os cancelamentos. Ainda assim, Luís Seabra alerta que o efeito desaparece a partir de setembro.
O presidente acredita que nessa altura se vai sentir o verdadeiro impacto, prevendo uma realidade idêntica a outubro de 2017, com “ruas desertas” numa região cada vez mais despovoada e dependente do turismo.
“Grande quebra” nas marcações
De acordo com Pedro Machado, presidente do Turismo Centro Portugal (TCP), os fogos terão já provocado o cancelamento de 5 a 10% das reservas nas unidades hoteleiras na região, nomeadamente entre 12 e 15 de Agosto.
Nos locais mais perto das chamas, há hotéis que registaram cerca de 70% de cancelamentos, sublinhou Pedro Machado. O responsável deu o exemplo do Hotel da Fábrica, em Manteigas, com quebra de cerca de 60% na altura mais crítica dos fogos.
O proprietário, João Clara de Assunção, confirma ao Público que se verifica “uma grande quebra de marcações”. “Qualquer pessoa que, à distância, ouvia os noticiários deixou de vir para a serra da Estrela”, admite.
O empresário Ricardo Cabral, responsável pelo empreendimento turístico Abrigo da Montanha, no Sabugueiro, também verifica uma quebra nas suas reservas, prevendo taxas de ocupação bastante inferiores às dos meses anteriores.
Os cancelamentos são a curto e médio prazo e impedem a manutenção de taxas de ocupação, que representavam um retorno a níveis anteriores à pandemia. “O mês passado estava com uma taxa de ocupação de 61%, que é muito bom para a zona em que estamos. Daqui a um mês, talvez baixe para metade, para 30%, 40%”, refere.
O empresário, também é proprietário dos vinhos da Casa da Passarella, apela ao governo para que “pense a sério” no problema dos incêndios, e encontre formas de simplificar o acesso dos empresários a apoios nos momentos mais delicados.
“Há sempre qualquer requisito que não dá para cumprir para se ter acesso aos apoios. E as únicas pessoas que podem tentar atenuar isso e fazê-lo de uma forma mais aberta são os nossos governantes”, realça.
Queijo da serra mais caro
Relativamente à produção de queijos, os incêndios chamaram a atenção para uma situação que já se vinha a agravar há algum tempo: a subida dos custos de produção e de exploração transversais a outros setores desde a pandemia, e a seca extrema que se intensificou nos últimos meses.
Joaquim Lé de Matos, presidente da Estrelacoop, a Cooperativa de Produtores de Queijo Serra da Estrela, explica que os fogos chegaram à área demarcada para a produção de queijo Serra da Estrela, com alguns pastores, “não muitos”, a ficarem sem pastos para os seus rebanhos de ovelhas bordaleiras.
Lé de Matos refere ainda que estes factores vão obrigar a um aumento destes produtos de Denominação de Origem Protegida da Serra da Estrela. O responsável admite que a valorização dos produtos já era um objetivo da Estrelacoop para os próximos anos, mas a seca extrema e os incêndios vieram “acelerar” o processo.
“No alavão [a melhor altura do ano para produção de queijo] 2022-2023 vai haver redução do leite de ovelha Serra da Estrela para produção do queijo. Só por isso, para haver rentabilidade aos pastores e produtores, temos de subir os preços”, explica.
Joaquim Lé de Matos antecipa um aumento do preço do queijo Serra da Estrela de 50 a 80 cêntimos por quilo. “Acreditamos que quem gosta do queijo da Serra não se importa de pagar mais esse valor para que se possa minimizar o impacto do lado dos produtos e, sobretudo, do lado dos pastores”, conclui.
La vou eu passar a comprar Gouda !