Uma nova pesquisa recorreu a um método utilizado nas análises geológicas para descobrir um potencial novo bioindicador do cancro, o que pode facilitar os diagnósticos precoces da doença.
Um estudo inovador publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences revelou um novo método potencial para a deteção precoce do cancro, examinando a distribuição dos isótopos de hidrogénio a nível atómico, uma técnica tradicionalmente utilizada na geologia.
A investigação explora a variação natural dos isótopos de hidrogénio – deutério e prótio – para detetar potencialmente alterações cancerígenas nas células. O deutério, ou hidrogénio pesado, contém um neutrão adicional em comparação com o seu homólogo mais abundante, o prótio.
A pesquisa explorou se as diferenças metabólicas nas células cancerígenas poderiam ser reveladas através da sua composição isotópica. A equipa cultivou células de levedura e de fígado de rato para analisar essas diferenças, descobrindo que as células altamente proliferativas, como as células cancerígenas, apresentam uma proporção distinta de hidrogénio para deutério em comparação com as células normais. Esta descoberta significativa sugere que a composição isotópica das células pode servir de bioindicador para a deteção precoce do cancro.
A equipa utilizou a espetrometria de massa para analisar os isótopos de hidrogénio em amostras de ácidos gordos de colónias de células saudáveis e com cancro. Observaram diferenças notáveis nos rácios dos isótopos, que eram particularmente evidentes nas células de levedura em fermentação, utilizadas como proxies para as células cancerígenas, apresentando aproximadamente menos 50% de átomos de deutério do que as células normais. Do mesmo modo, as células cancerosas do rato apresentavam uma presença reduzida de deutério, embora menos pronunciada.
As implicações do estudo são profundas, tendo em conta que o diagnóstico convencional do cancro pode ser invasivo e dispendioso. Se mais investigações confirmarem estes resultados, poderão levar ao desenvolvimento de análises ao sangue simples para detetar precocemente o cancro com base em assinaturas isotópicas. Este método não só seria menos invasivo, como também poderia ser implementado em larga escala, frisa o Science Alert.
A investigação revela o potencial da utilização de ferramentas da ciência geológica para o avanço do diagnóstico médico. À medida que o estudo avança para mais testes e validação, tem o potencial não só de revolucionar a forma como detetamos e compreendemos o cancro, mas também de alterar significativamente o prognóstico de milhões de pessoas afetadas pela doença em todo o mundo.