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Igreja Católica abre porta a padres casados na Amazónia

catholicism / Flickr

O papa Francisco

O Vaticano vai debater a possibilidade de homens casados se tornarem padres nas áreas remotas da Amazónia, região sul-americana que sofre com a escassez de religiosos, avança a agência noticiosa AP.

A proposta, precisa a agência, é mencionada num documento publicadao para uma reunião de bispos da Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, que decorrerá entre 6 e 27 de outubro.

“Afirmando que o celibato é uma dádiva para a Igreja, solicita-se que, para as áreas mais remotas da região seja estudada a possibilidade de ordenação sacerdotal para anciãos, preferencialmente indígenas, respeitados e aceites pela sua comunidade, mesmo que já tenham família constituída e estável”, pode ler-se no documento.

O celibato divide os altos círculos católicos, tendo sido implementando a partir do século XI pelo Papa Gregório VII. Como o celibato é uma disciplina e não uma doutrina, este poderia ser modificado se assim fosse decidido.

Em declarações ao Diário de Notícias, o padre Anselmo Borges considera que ser “absolutamente claro” que vai ser decidido neste sínodo a possibilidade de a Igreja universal ordenar homens casados.

Para sustentar estas palavras, recorre às declarações “muito significativas” do cardeal Walter Kasper, um teólogo de relevância que o Papa escuta com muita atenção. “Se os bispos concordassem em ordenar homens casados, o Papa, na minha opinião, aceitaria essa posição. O celibato não é um dogma, não é uma prática inalterável”, disse numa entrevista ao jornal alemão Frankfurter Rundschau.

“A questão do celibato só aparece no segundo milénio do cristianismo. Jesus não impôs essa lei, não se pode impor aquilo que Jesus entregou como opção“, afirma ainda o padre Anselmo Borges, que é também professor de Filosofia. “Hoje sabemos que o celibato não é cumprido por quantos?”, indaga.

Questionado sobre se o eventual fim do celibato trará mais gente à Igreja, o sarcedote é claro: “A Igreja não tem que viver em função de trazer mais gente ou não, tem de viver em função do Evangelho. Jesus instituiu a Eucaristia, mas há muitas comunidades onde não há padres, portanto não há celebração”, rematou.

No caso específico do Brasil, o fim do celibato é já um problema antigo: os bispos brasileiros pressionam há muito a Igreja para colocar a medida em prática, sustentando que para cada 10.000 católicos há apenas um sacerdote.

Os mesmos bispos apontaram já também a possibilidade de ordenar mulheres como diáconos, bem com outras medidas para enfrentar os problemas da comunidade indígena na Amazónia, como a desflorestação, a exploração industrial e a competição com igrejas pentecostais, que têm uma presença notória entre as comunidades da região.

No que respeita à ordenação de mulheres, Anselmo Borges reconhece, citado pelo diário, que há ainda um longo caminho a percorrer. “A Igreja é machista e misógina e é das últimas monarquias absolutas”. Apesar de reconhecer que a Igreja poderá sofrer pressões nesse sentido, o sacerdote não acredita nesta mudança.

Ainda assim defende que devia ser dada às mulheres uma oportunidade quanto ao sacerdócio, tanto mais que “Jesus queria que fossem constituídas comunidades de discípulos e discípulas”, concluiu em declarações ao diário.

ZAP //

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