IA, a exploradora: há 8 possíveis sinais de vida extraterrestre em 820 estrelas próximas

Ao longo da história do SETI, a interferência de sinais de rádio causados pelo homem tem sido um problema persistente.

Uma equipa de investigadores, liderada por cientistas da Universidade de Toronto, desenvolveu um novo algoritmo de machine learning para ajudar a responder a uma famosa questão. Estamos ou não sozinhos no Universo? Trata-se de um outro uso da inteligência artificial (IA), que nas últimas semanas se propagou graças ao ChatGPT e na qual um computador executa tarefas que os humanos (ou computadores menos sofisticados) costumavam fazer.

Os investigadores esperam que o novo algoritmo racionalize a procura de inteligência e vida extraterrestre, conhecida como SETI. Isto porque a tecnologia consegue encontrar sinais potenciais sinais que podem ter escapado à análise com outros métodos. Depois de olhar para 820 estrelas iniciais, a ferramenta já encontrou 8 potenciais sinais de interesse.

Os astrónomos descobriram os sinais em dados de rádio previamente recolhidos pelo Telescópio Robert C. Byrd Green Bank na Virgínia Ocidental, no entanto, estes haviam sido perdidos em exames anteriores aos dados. As conclusões deste trabalho realizado pela equipa da Universidade de Toronto foram publicadas na revista Nature Astronomy.

Ao longo da história do SETI, a interferência de sinais de rádio causados pelo homem tem sido um problema persistente. Encontrar sinais extraterrestres reais — se é que existem — não é uma tarefa fácil. “Em muitas das nossas observações, há uma grande interferência. Precisamos de distinguir os emocionantes sinais de rádio no espaço dos sinais de rádio que não interessam na Terra”, explicou Peter Ma, licenciado da Universidade de Toronto e autor principal do artigo.

Como tal, os astrónomos perceberam que precisavam de um novo método de detecção de sinais de rádio, um capaz de “separar o trigo do joio” por assim dizer. Foi aqui que entrou em cena a machine learning, com um mecanismo capaz de detectar e distinguir melhor os potenciais sinais alienígenas do restante o ruído existente ao redor da Terra. Esta pesquisa inicial passou a pente fino os dados de 820 estrelas próximas.

“No total, tínhamos pesquisado 150 TB de dados de 820 estrelas próximas, num conjunto de dados que tinha sido previamente analisados em 2017 por técnicas tradicionais mas rotulado como desprovido de sinais interessantes”, continuou Peter Ma.

Sinais alienígenas vs. interferência de origem humana

De forma simples e resumida, a tecnologia de machine learning assenta num treino providenciado pelos investigadores a um algoritmo que diferencia os potenciais sinais alienígenas dos sinais de origem humana através da simulação dos dois tipos de sinais.

O novo algoritmo também é baseado em comparações de vários outros algoritmos de machine learning. O grande objectivo passa por diminuir as taxas de falsos positivos e aumentar a precisão na deteção de sinais.

O algoritmo pode ser novo e ainda estar a ser testado, mas já descobriu oito sinais que motivaram o interesse dos cientistas. Os astrónomos analisaram 820 estrelas próximas do catálogo Hipparcos na esperança de encontrarem possíveis tecnossinaturas. E, surpreendentemente, encontraram. Os oito sinais parecem ter origem na direção de cinco das estrelas, as quais variam, em termos de distância, entre 30 a 90 anos-luz de distância. Estes dados não haviam sido identificados nas análises anteriores.

Os investigadores observaram que os sinais têm pelo menos duas características-chave que os tornam dignos de uma análise mais atenta. Primeiro, os sinais eram de banda estreita, ou seja, tinham uma largura espectral estreita, na ordem de apenas alguns Hertz. Os sinais causados por fenómenos naturais tendem a ser de banda larga.

Em segundo lugar, os sinais tinham taxas de deriva não nulas, o que significa que os sinais tinham uma inclinação. Tais inclinações podiam indiciar que a origem de um sinal tinha alguma aceleração relativa com os receptores, pelo que não eram locais para o observatório de rádio.

Por último, os sinais apareceram em observações ON-source e não em observações OFF-source. Se um sinal provém de uma fonte celestial específica, costuma aparecer quando se aponta o telescópio para o alvo e desaparece quando desviamos o nosso olhar. A interferência de rádio humana ocorre normalmente em observações ON e OFF devido ao facto de a fonte estar perto.

Os sinais parecem-se com o que os cientistas esperam que os sinais extraterrestres o sejam, de facto. No entanto, há um problema: as observações de seguimento – até agora, pelo menos – não os voltaram a ver. Os astrónomos precisam de os detectar novamente a fim de os estudar mais de perto e tentar determinar se são realmente do Espaço profundo ou apenas de interferência terrestre.

ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.