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Humanos pré-históricos armazenavam medula óssea para comer mais tarde

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Os humanos pré-históricos que viviam numa caverna em Israel entre 420 mil e 200 mil anos atrás armazenavam medula óssea para comer mais tarde, o que mostra que os primeiros hominídeos entendiam que os alimentos poderiam não estar disponíveis no futuro.

A Caverna Qesem, a cerca de 12 quilómetros de Tel Aviv, foi identificada como um local de ocupação humana precoce há quase 20 anos quando a construção de estradas a atravessou. Desde então, foi desenterrada uma enorme quantidade de evidência arqueológica, incluindo dezenas de milhares de ossos de animais foram processados pelos nossos ancestrais humanos.

De acordo com o estudo publicado esta semana na revista especializada Science Advances, investigadores liderados por Ruth Blasco, do Centro Nacional de Pesquisa em Evolução Humana de Espanha, analisaram os ossos e realizaram experiências para mostrar a forma como estes ocupantes aprenderam a armazenar efetivamente a medula óssea durante semanas e meses após a morte do animal.

Por outro lado, desconhece-se quais eram as espécies de hominídeos que processaram os ossos dessa forma. Blasco, de acordo com o Newsweek, disse que, quem quer que fossem, demonstravam muitos comportamentos modernos, incluindo o uso regular de fogo, reciclagem e torrefação de alimentos. O consumo de medula óssea é outra tarefa a ser adicionada a esta lista.

A medula óssea, o tecido encontrado dentro de alguns ossos, é altamente nutritivo, sendo mais rico em calorias do que em proteínas ou hidratos de carbono. Como resultado, teria sido uma fonte de alimento valiosa e significativa para os primeiros seres humanos.

Blasco começou a trabalhar no local de Qesem em 2011. Ao analisar os materiais da fauna lá encontrados, percebeu que havia marcas incomuns nos ossos de veado recuperados. Depois de analisar os restos mortais de quase 82 mil ossos de animais no local, a equipa mostrou que a medula óssea estava a ser preservada para ser consumida mais tarde.

A pele seca e velha é mais difícil de remover do osso do que quando está fresca. Como resultado, removê-la deixa para trás marcas específicas. “As marcas incomuns foram identificadas em experiências subsequentes e explicadas pela remoção da pele seca”, disse Blasco. “Especificamente, as marcas foram geradas pela dificuldade ou esforço necessário para remover a pele seca e os tendões firmemente presos ao osso após uma exposição sub-aérea prolongada dos ossos”.

Em experiências, os cientistas mostraram que as marcas poderiam ser replicadas ao remover a pele após duas ou mais semanas. Os investigadores também descobriram que a remoção da pele aumentou após quatro semanas. As suas experiências também mostram que o valor nutricional da medula óssea começa a deteriorar-se cerca de seis semanas após a morte do animal.

A equipa ficou surpreendida com as descobertas. “A acumulação deliberada de ossos por atraso no consumo de medula implica uma preocupação antecipada com necessidades futuras. Esse facto marca um limiar para novos modos de adaptação paleolítica, porque a capacidade de previsão ultrapassa o ‘aqui e agora’ como um meio de subsistência numa cronologia de mais de 300 mil anos”, observou.

Alguns estudos anteriores sugerem que o processo de extração moldou a nossa própria evolução. Blasco acredita que este é apenas o começo da nossa compreensão sobre a forma como os humanos pré-históricos armazenavam alimentos para consumo posterior.

ZAP //

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