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Humanos mudam os ecossistemas com fogo há quase 100 mil anos

(dr) Jason Houston / The Nature Conservancy

Queimada controlada em terreno agrícola, Willamette Valley, Oregon (Estados Unidos)

Um novo estudo mostra que os humanos têm mudado o ambiente em que vivem recorrendo ao fogo há pelo menos 92 mil anos.

Ao chegar a novas terras, os humanos usaram o fogo para as mudar de acordo com as suas necessidades. A chamada “firestick farming” (agricultura com bastões de fogo), por exemplo, transformou a paisagem da Austrália e da América do Norte, criando ambientes mais adequados para caçar e reduzir a probabilidade de grandes incêndios.

Há muito que os antropólogos estão a tentar determinar quando é que esta técnica foi dominada e, em particular, se precedeu a expansão da Humanidade para fora de África. A grande dificuldade é que, milhares de anos depois, as mudanças provocadas por estes incêndios são semelhantes às provocadas pelos raios.

Felizmente, conta o site IFLScience, Jessica Thompson, professora assistente de Antropologia da Universidade de Yale, encontrou um sinal distinto nos sedimentos à volta da margem do lago Malawi, um dos maiores de África.

Ao longo de 600 mil anos, estes sedimentos revelam mudanças na abundância e diversidade de pólen, à medida que a vida das plantas mais próximas mudou com as mudanças do clima. Nos sedimento relativos há cerca de 92 mil anos, Thompson encontrou um aumento na deposição de carvão, indicando incêndios mais frequentes na área de influência do lago.

National Library of Australia

Aborígenes em queimada controlada (quadro de Joseph Lycett, 1817). O termo “firestick farming foi cunhado em 1969 pelo arqueólogo australiano Rhys Jones para descrever a prática aborígene de usar fogo para controlar a vegetação.

Essa mudança pode ter várias causas, mas, segundo reporta a investigadora e o resto da equipa no estudo publicado, a 5 de maio, na revista científica Science Advances, coincide com um declínio na riqueza do pólen.

“O pólen que vemos neste período mais recente de clima estável é muito diferente do que antes. Especificamente, árvores que indicam copas florestais densas e estruturalmente complexas deixam de ser comuns e são substituídas por pólen de plantas que lidam bem com incêndios e perturbações frequentes”, explicou Thompson, citada pelo site EurekAlert!.

Também foram depositados mais sedimentos nessa época, juntamente com mais artefactos feitos pelo Homem. Isto porque com as terras altas menos cobertas por florestas, as fortes chuvas trouxeram mais terra consigo, às vezes acompanhadas por objetos que os nossos ancestrais fizeram.

Segundo o mesmo site, estas mudanças não coincidiram com as novas condições climáticas. O lago Malawi encolheu drasticamente durante os períodos de seca, mas manteve-se cheio nesta época.

“De uma forma ou de outra, é causado pela atividade humana“, disse a investigadora.

O que não sabemos é se as mudanças foram deliberadas, ou não. Talvez um aumento na densidade das populações humanas na área tenha significado mais fogueiras, o que por sua vez levou a mais fugas e a incendiar as florestas próximas. No entanto, os utilizadores do fogo quase de certeza beneficiaram com isto, criando um ecossistema mais atraente para grandes presas.

ZAP //

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