No século XVII, as ruas do País de Gales encheram-se com homens vestidos de mulheres, para protestar contra contra as injustiças sociais e económicas. Os protestos teatralizados serviam para proteger a identidade dos manifestantes.
Em 1843, no sudoeste do País de Gales, eclodiram os motins de Rebecca – intensos protestos nas comunidades rurais contra a opressão económica e as taxas elevadas das portagens.
Estes tumultos, iniciados em 1839, intensificaram-se particularmente no verão de 1843, simbolizando uma resistência contra as injustiças sociais e económicas.
Os manifestantes – predominantemente homens – vestiam-se de mulheres para não serem reconhecidos, num movimento que ficou conhecido como filhas de Rebecca, “Merched Beca” em galês.
As portagens, estabelecidas pela legislação britânica no final do século XVII, tinham como objetivo financiar a manutenção das vias públicas.
No entanto, essas taxas era “um fardo pesado para a população”, como descreve o The Conversation, especialmente para os agricultores, que já enfrentavam uma série de dificuldades económicas, como a depressão agrícola, colheitas fracas, rendas elevadas e a imposição de diversos impostos.
Os ataques dos focavam-se na demolição das portagens e na intimidação das autoridades.
A revolta ganhou um impulso dramático com o ataque a um asilo em Carmarthen, a 19 de junho de 1843. Este evento marcou uma escalada nos protestos, conduzindo a ataques mais violentos, incluindo a propriedades privadas e até ao uso de armas de fogo.
O incidente mais grave foi a morte de Sarah Williams, uma idosa guardiã de uma portagem, durante um ataque.
Os manifestantes que foram descobertos (provavelmente, porque não se tinham vestido de mulher) foram duramente punidos, sendo alguns, inclusivamente, transportados para colónias penais na Tasmânia.
Em anos seguintes, houve ressurgimentos ocasionais de protestos em nome de “Rebecca”, incluindo ações contra a pesca ilegal de salmão na década de 1870 e, mais tarde, em campanhas ambientais no século XX.
A imagem de Rebecca continua, até ao dias de hoje, muito presente na sociedade galesa, simbolizando a justiça e a tradição de protesto.