Há uma ligação entre o álcool e os defeitos congénitos. É por isso que as descobertas deste recente estudo são tão importantes para os homens que estão a ponderar constituir uma família.
O consumo de álcool antes e durante a gravidez sempre foi uma grande preocupação, dado que está associado à síndrome alcoólica fetal. Esta condição é responsável por características faciais anormais, baixo peso e/ou altura na altura do nascimento, problemas de atenção, hiperatividade e má coordenação da criança no futuro.
Sempre foi atribuída às mulheres a responsabilidade de parar de beber, mas, recentemente, o foco mudou para o consumo paterno.
Uma recente investigação demonstrou que o esperma contém muitas informações epigenéticas que podem ser modificadas pela exposição ao álcool. O estudo, realizado por cientistas da Texas A&M University, analisou o efeito do consumo de álcool nos espermatozóides, as mudanças epigenéticas que produz e quanto tempo duram essas mesmas mudanças.
“Com este projeto, queríamos ver quanto tempo levaria para que os efeitos do álcool no esperma desaparecessem. Achávamos que seria uma mudança relativamente rápida, mas não foi. O processo de retirada demorou mais de um mês“, explicou o investigador Michael Golding.
Em laboratório, os cientistas expuseram ratos machos a álcool (6% ou 10%) durante 10 semanas, retiraram-no durante quatro semanas e usaram sequenciação de ARN para examinar padrões de expressão genética no epidídimo, a longa estrutura tubular enrolada no topo de cada testículo que armazena esperma. O grupo de controlo foi exposto apenas a água.
A equipa observou que a exposição crónica ao álcool causou alterações nas vias genéticas relacionadas com a função mitocondrial, stress oxidativo e resposta generalizada ao stress no epidídimo, que persistiu durante um mês após a cessação do consumo de álcool.
Segundo a equipa, citada pelo New Atlas, as alterações induzidas pelo álcool podem levar a problemas como a síndrome alcoólica fetal. Além disso, sublinham que não é necessário o uso excessivo de álcool para que uma pessoa sofra abstinência.
“Nos modelos que utilizamos, mesmo beber três a quatro cervejas depois do trabalho, vários dias por semana, pode induzir a abstinência quando o comportamento cessa”, disse Golding. “Ainda que não se sinta embriagado, o seu corpo está a passar por mudanças químicas.”
Embora Golding e a sua equipa continuem a investigar os efeitos do consumo de álcool pelo pai para ajudar os médicos a aconselhar os casais, sugere que os pais se abstenham de álcool pelo menos três meses antes de conceberem.
Com estas descobertas, descritas num artigo científico publicado Andrology, a esperança dos investigadores norte-americanos é que a narrativa sobre quem é o responsável pelos defeitos congénitos relacionados com o álcool mude, aliviando um pouco a pressão sobre as mulheres.