Hnefatafl: O jogo de tabuleiro dos Vikings que foi esquecido devido ao xadrez

O jogo de tabuleiro mais popular entre os territórios ocupados pelos Vikings, o Hnefatafl ficou esquecido no tempo devido ao surgimento do xadrez.

Hnefatafl é um dos maiores jogos de tabuleiro da história. A palavra é um composto de hnefi (que significa punho) e tafl (que significa tabuleiro). É um jogo medieval Viking com regras fáceis de aprender e jogado por dois jogadores com um número de peças desigual.

O lado defensor é composto por doze soldados e um rei, que iniciam o jogo em formação cruzada no centro do tabuleiro. O seu objetivo é que o rei escape alcançando qualquer um dos quatro quadrados dos cantos.

Por sua vez, os atacantes são 24 soldados posicionados em quatro grupos de seis ao redor do perímetro do tabuleiro. Todas as peças movem-se como a torre no xadrez e as peças são tomadas por “sanduíche”, ou seja, movendo a sua peça para que a peça do adversário fique presa horizontal ou verticalmente entre duas das suas.

Esta era uma das formas conhecidas de jogar Hnefatafl. A Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa explica, num artigo em inglês, as regras deste mítico jogo de tabuleiro.

O jogo era popular na Escandinávia já em 400 dC e foi levado pelos Vikings para as terras que conquistaram. Ao longo dos séculos, o jogo desenvolveu-se e diferentes versões do tabuleiro foram encontradas por arqueólogos em locais da Irlanda à Ucrânia.

O seu declínio começou no século XI, quando foi usurpado, sem grandes cerimónias, por um novo jogo chamado “xadrez”.

“O xadrez certamente acabou com muitos jogos”, diz Martha Bayless, da Universidade de Cambridge, em declarações à Inverse. Tafl era um jogo de guerra, assim como o xadrez, por isso encaixam num espaço semelhante na cultura”.

“O outro jogo medieval muito popular era uma forma de gamão, que é um jogo de corrida, e esse jogo continuou forte o tempo todo, como podemos ver pelo facto de que as pessoas ainda hoje jogam gamão. Foi no reino dos jogos de guerra que o tafl perdeu para o xadrez”, acrescentou Bayless.

Popular no norte e na Europa ocidental, o tafl era provavelmente uma forma adaptada ou localizada do ludus latrunculorum romano e petteia grego. Através do comércio, invasões e várias outras formas de intercâmbio cultural, este jogo foi gradualmente disseminado pelas partes da Europa sob ocupação dos Vikings.

Entretanto, o xadrez chegou no século XII. O novo e moderno xadrez foi capaz de substituir rapidamente qualquer jogo que tivesse na Europa Viking.

Um número crescente de pessoas aprendeu a jogar à medida que os ricos começaram a adquirir e comercializar tabuleiros e peças importadas do estrangeiro.

Apesar de se saber que o objetivo do jogo era que o rei escapasse, a forma como isto era feito continua a ser alvo de debate.

“A névoa do tempo obscureceu um pouco a transmissão das regras”, diz o historiador de jogos Eddie Duggan, à Inverse.

“Elas não foram escritas da maneira que hoje esperamos encontrar as regras do Cluedo incluídas numa caixa com todas as peças. As pessoas passariam as regras umas às outras em diferentes contextos”, começou por explicar o investigador. “Estas teriam variado de lugar para lugar e podem ter sido adaptadas às circunstâncias locais”.

Bayless corrobora as declarações de Duggan.

“Na realidade, não sabemos como é que as peças se moviam. Em linhas retas ou também na diagonal? Um quadrado de cada vez ou vários quadrados? E não sabemos como é que as capturas eram feitas – cercando uma peça? Em dois lados? Ou quatro lados? Ou saltar sobre a peça? As regras podem ter variado de lugar para lugar e de época para época, como é comum em muitos jogos tradicionais”, explicou a investigadora.

“Mas foi o jogo de tabuleiro mais proeminente no norte da Europa por centenas de anos, por isso, independentemente de como era jogado, era envolvente”, acrescentou.

Daniel Costa, ZAP //

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