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Historiador diz ter decifrado o manuscrito mais misterioso do mundo

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Beinecke Library / Wikimedia

Manuscrito de Voynich: o livro indecifrável escrito numa língua que não existe com criaturas nunca vistas

Textos que parecem mensagens cifradas, desenhos de mulheres nuas em banheiras com líquido verde, símbolos do zodíaco e desenhos de plantas e criaturas estranhas. O misterioso manuscrito de Voynich poderá ter sido decifrado.

Não é de estranhar que estes e outros elementos, que fazem parte do conteúdo do Manuscrito Voynich – um livro ilustrado datado do período entre os séculos XV e XVI, encontrado em 1912 pelo comerciante Wilfrid Voynich, que dá o nome ao objeto – tenham há décadas intrigados especialistas e leigos sobre a sua origem e função.

Com um pequeno tamanho, 240 páginas ilustradas e uma capa de couro desgastada, o livro indecifrável escrito numa língua que não existe com criaturas nunca vistas já foi apontado como “o manuscrito mais misterioso do mundo“, como obra de extraterrestres e até como uma farsa fabricada pelo próprio Wilfrid Voynich.

Agora, o historiador britânico Nicholas Gibbs diz desvendado o mistério. Segundo o artigo publicado por Gibbs no início deste mês na prestigiada revista britânica The Times Literary Supplement, a resposta é simples: o livro tem como objectivo aconselhar sobre a saúde – principalmente das mulheres – e é uma amostra da medicina medieval.

No artigo, “Manuscrito Voynich: A solução“, Nicholas Gibbs diz que o manuscrito é “um livro de referências de remédios, retiradas dos tratamentos normais do período medieval – um manual de instruções para a saúde e o bem-estar para as mulheres mais abastadas da sociedade, e que muito possivelmente foi escrito para uma única pessoa“.

Se durante muito tempo se acreditou que as estranhas palavras do livro estavam cifradas, Gibbs apresenta uma explicação alternativa: elas são abreviaturas de termos do latim.

Mais especificamente, seriam ligaduras tipográficas – o nome que se dá à grafia que une duas ou mais letras em um único símbolo (como Æ e o famoso &, que resultou de e e t). Este recurso era muito utilizado na Idade Média como forma de economizar espaço e trabalho pelos escribas de então.

“Sendo alguém com uma longa experiência na interpretação de inscrições em latim em monumentos clássicos, sepulturas e chapas metálicas de igrejas inglesas, reconheci no Manuscrito sinais reveladores de um formato abreviado de latim”, escreve Gibbs.

O artigo publicado na The Times Literary Supplement traz uma imagem com duas linhas codificadas com palavras como estas.

Nicholas Gibbs / The Times Literary Supplement

Imagem que acompanha o artigo de Gibbs mostra dois trechos do Manuscrito de Voynich que o historiador diz ter descodificado

Consultando o Léxico Abbreviaturarum de Latim Medieval (1899), de Adriano Cappelli, o historiador diz ter reconhecido no manuscrito pelo duas ligaduras, “Eius” e “Etiam“.

Diversas abreviaturas corresponderiam a palavras-padrão relacionadas com plantas e infusões, como aq=aqua (água), con=confundo (mistura), ris=radacis/radix (raíz). “Então, o herbário do Manuscrito Voynich deverá conter uma série de ingredientes ‘simples’ com as medidas necessárias”.

Segundo o pesquisador, era comum que livros de referência semelhantes ao manuscrito viessem acompanhados de um índice com abreviaturas e os correspondentes nomes de doenças, sintomas, nomes de plantas, entre outros. Mas segundo Gibbs, o índice do Manuscrito Voynich está desaparecido.

Simon Worrall / BBC

O manuscrito medieval tem intrigado especialistas e leigo desde sua descoberta, em 1912

Medicina medieval

O historiador relaciona também o manuscrito com outros contextos da Idade Média, como as práticas de banho – tema bastante presente nas ilustrações do manuscrito. “Pareceu-me lógico olhar para os hábitos de banho do período medieval. Tornou-se logo bastante óbvio que tinha entrado no tema da medicina medieval”, diz o texto de Gibbs.

Segundo o historiador, ilustrações de plantas, símbolos do zodíaco e diagramas eram comuns na época quando o tema era saúde – numa altura em que os precursores clássicos da medicina, como Galeno, Hipócrates e Sorano de Eféso, eram reverenciados.

O uso de banhos em tratamentos era uma longa tradição, praticada por gregos e romanos, continuada na Idade Média. “Essa é uma das actividades centrais do Manuscrito, e uma das suas principais características é a presença de figuras femininas nuas imersas em algum tipo de mistura”, diz o historiador.

“A medicina clássica e medieval tinha divisões separadas dedicadas às queixas e doenças das mulheres – principalmente, mas não exclusivamente na área de ginecologia”, acrescenta.

Nicholas Gibbs identificou também referências, em conteúdo e em ilustrações, a dois guias amplamente disseminados pela Europa no período medieval: o Trotula, um tratado ginecológico, e o De Balneis Puteolanis, sobre os benefícios dos banhos com infusões.

Algumas críticas

A solução apresentada por Gibbs, porém, não resolveu o mistério para muitos outros especialistas. Em blogs, fóruns e no Twitter, o artigo foi bastante criticado – em geral, acusado de não ter apresentado bases suficientes para os argumentos.

“E lá vamos nós de novo. Eu já li dezenas de ‘soluções’ para o manuscrito Voynich, e esta é tão pouco convincente como as últimas 3 mil”, escreveu Lisa Fagin Davis, directora da Academia Medieval dos Estados Unidos, no Twitter.

“O resumo no Times Literary Supplement é realmente muito curto para nos permitir qualquer análise séria”, diz ao The Atlantic o engenheiro René Zandbergen, que administra um site sobre o manuscrito, para quem o artigo de Gibbs é desproporcionado: um texto muito grande com apenas duas linhas do livro medieval descodificadas.

3 Comments

  1. Eles mesmo se enrolam nas próprias mentiras!! O homem não tem como transpassar o firmamento feito pelo Deus altíssimo!!!
    E disse Deus: Haja uma expansão no meio das águas, e haja separação entre águas e águas. E fez Deus a expansão e fez separação entre as águas que estavam debaixo da expansão e as águas que estavam sobre a expansão. E assim foi. E chamou Deus à expansão Céus; e foi a tarde e a manhã: o dia segundo.
    Gênesis 1:6‭-‬8 ARC95
    http://bible.com/212/gen.1.6-8.ARC95

    E disse Deus: Haja luminares na expansão dos céus, para haver separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais e para tempos determinados e para dias e anos. E sejam para luminares na expansão dos céus, para alumiar a terra. E assim foi. E fez Deus os dois grandes luminares: o luminar maior para governar o dia, e o luminar menor para governar a noite; e fez as estrelas. E Deus os pôs na expansão dos céus para alumiar a terra, e para governar o dia e a noite, e para fazer separação entre a luz e as trevas. E viu Deus que era bom. E foi a tarde e a manhã: o dia quarto.
    Gênesis 1:14‭-‬19 ARC95
    http://bible.com/212/gen.1.14-19.ARC95

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