A Alemanha está a braços com uma epidemia de ataques a caixas multibanco. Em 2022, os criminosos fizeram explodir quase 500 caixas no país, um aumento de 27% em relação a 2021. Cultura do dinheiro vivo, fragmentação do sistema bancário e auto-estradas rápidas contribuem para o fenómeno.
No início do ano passado, os moradores de um prédio de apartamentos em Ratingen, no oeste da Alemanha, recorreram à Justiça para forçar a retirada das caixas multibanco de uma agência do banco Santander localizada no rés-do-chão do edifício.
A sua queixa parece agora profética.
Cerca de um ano mais tarde, um grupo de criminosos fez explodir uma das caixas multibanco do edifício, para roubar o dinheiro guardado no seu interior.
Em 2022, a Alemanha registou mais de um ataque a caixas multibanco por dia, com um total de 496 ataques ou tentativas de ataque com explosivos.
Um total de 413 detonações bem-sucedidas resultou em roubos no valor de 30 milhões de euros — além de danos materiais no valor de 13 milhões de euros.
Os ataques aumentaram sobretudo na região ocidental do país, e embora não tenha havido mortes registadas, houve seguranças e agentes da polícia feridos durante os ataques ou em perseguição aos criminosos.
Entre 2015 e 2020, o método mais usado pelos criminosos envolvia fazer explodir os caixas com cilindros de gás. Em 2019, mais de 90% das explosões ainda eram provocadas por gás.
No entanto, a maioria das caixas multibanco alemãs tem agora proteções criadas especialmente contra detonações com gás. Mas os gangs adaptaram-se.
Usar explosivos sólidos tornou-se agora o método mais popular de ataque às caixas multibanco, correspondendo a 80% dos ataques em 2022.
Os criminosos estão a usar cada vez mais violência, tornando-se uma grande preocupação de segurança. De acordo com o Departamento Federal de Investigações do país, os criminosos fogem frequentemente a alta velocidade em carros roubados, colocando em risco peões e outros condutores.
Estima-se que 70% a 80% dos ataques a caixas multibanco na Alemanha desde 2018 tenham sido realizados por gangs criminosos sediados nos Países Baixos, que tiram partido das fronteiras abertas entre os dois países e da extensa rede de autobahns, as autoestradas alemãs de alta velocidade, que facilitam as fugas.
Esse é o caso do chamado “Gang dos Audi“, um grupo de 200 a 500 criminosos que recorre a carros de alta cilindrada da marca alemã para audaciosas fugas — por vezes com resultados trágicos — que nos últimos anos realizou centenas de ataques a caixas multibanco no oeste da Alemanha.
A Alemanha tem mais de 55 mil caixas multibanco espalhados pelo país. Em contraste com a tendência global de avanço dos métodos de pagamento digital, a cultura do dinheiro vivo continua forte na Alemanha, onde 58% das compras em 2022 foram pagas em dinheiro.
A abordagem fragmentada do sistema bancário alemão, com 1.458 instituições bancárias diferentes, complica a implementação de uma estratégia unificada para reforçar a segurança.
Apesar das quase 200 detenções de suspeitos de ataques a caixas multibanco desde 2015, o número crescente de explosões registadas indica que estas medidas não tiveram impacto significativo.
ZAP // Deutsche Welle