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Há países a estudar repetição do ano lectivo. Portugal deve “comer nas férias” e fazer exames nacionais

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Manuel de Almeida / Lusa

A uma semana do regresso dos alunos do Secundário às aulas presenciais, questiona-se tudo o que se “perdeu” com o ensino à distância forçado pela pandemia de covid-19. Já há países a avaliarem a repetição do ano lectivo, mas em Portugal, defende-se “comer nas férias” e fazer exames nacionais.

Os estudantes do Secundário voltam às escolas na próxima segunda-feira, 5 de Abril, e os professores vão ser confrontados com aquilo que resultou menos bem durante o ensino à distância.

Nesta altura, não é claro se as aprendizagens foram muito ou pouco afectadas. Há professores que reportam já alguma regressão nos ensinamentos das crianças mais jovens, do Primeiro Ciclo, que voltaram às aulas presenciais mais cedo. Contudo, não é claro se apenas alguns terão “desaprendido” ou se o problema será generalizado.

“É decisivo avaliar o estado dos alunos”, defende o antigo ministro Nuno Crato, presidente da Iniciativa Educação, em entrevista ao Diário de Notícias (DN), sugerindo a realização de “testes de diagnóstico generalizados na escola” e “nacionais”.

“É necessário fazer testes, pelo menos provas de aferição nacionais, para percebermos em que ponto estamos e quais são as medidas a tomar para que as coisas melhorem”, aponta.

Quanto ao que se “perdeu”, Nuno Crato diz que “perdeu-se cognitivamente” e também “conhecimento”, mas vinca que “perdeu-se o convívio” que, sobretudo “na infância e adolescência, tem significado extraordinário”.

Repetição do ano lectivo como solução

Perante a certeza das lacunas de aprendizagem, alguns países estão até a ponderar a repetição do ano lectivo, como é o caso da Alemanha, onde se projecta facilitar o processo em que os pais podem pedir o “chumbo” dos filhos.

O sistema de ensino alemão prevê a passagem de ano como regra e só excepcionalmente se permite a retenção de estudantes.

Na Florida, nos EUA, está em andamento um projecto-lei que também visa permitir aos pais pedirem às autoridades de Educação para que os filhos repitam o ano lectivo.

Por outro lado, o Reino Unido está a estudar a possibilidade de aumentar o dia escolar, com as crianças a permanecerem mais horas na escola, apostando num ano lectivo com cinco períodos.

Mas, por cá, nenhuma das soluções é vista com bons olhos.

“Há que comer nas férias”

Para o antigo ministro de Educação do PSD David Justino, “a melhor solução é prolongar o ano lectivo, com três ou quatro semanas a mais, e começar o próximo ano lectivo mais cedo”, encurtando assim “as chamadas férias de Verão”, como diz ao Observador.

Chumbar toda a gente um ano é desastroso e não há ganhos em aumentar as horas de escola”, entende David Justino.

Eduardo Marçal Grilo, outro ex-ministro da Educação, é da mesma opinião, embora sublinhe que “não há uma varinha mágica”, igualmente em declarações ao Observador.

“Repetir o ano dependerá muito do estado em que os miúdos estiverem. Por exemplo, se no fim do 2.º ano não souberem ler, só soletrar, isso é o mesmo que não saberem ler. Se for esse o caso, então talvez seja preferível que esse aluno repita o ano escolar, seja um ano lectivo especial, seja um ano como os outros”, entende Marçal Grilo.

Sobre as férias de Verão, Marçal Grilo aponta que “desperdiçamos muito tempo” porque são “muito extensas” e “há muitos miúdos que ficam dois meses sem nada”. “Este tempo poderia servir para compensar”, entende, realçando que “o tempo não é elástico” e que “há que comer nas férias“.

O presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), Jorge Ascenção, sugere “começar as aulas uma semana mais cedo em Setembro”, também em declarações ao Observador.

Prolongar o ano escolar pode ter um efeito negativo, contraproducente, e é preciso perceber se os jovens estão mentalmente capazes ou se precisam de arejar”, avança ainda.

Academias de Verão nas escolas

Investigadores da Universidade Nova indicaram como sugestões a ideia de escolas de Verão e programas de tutoria.

A ideia dos tutores já é aplicada nas escolas portuguesas, mas poderia ser alargada com a participação de “pessoas mais graduadas, mais experientes, estudantes mais velhos, pessoas da comunidade, professores reformados”, refere Marçal Grilo.

O ex-Conselheiro Nacional de Educação Alexandre Homem Cristo, especialista em políticas educativas, fala ao Observador de Academias de Verão nas escolas, considerando que os alunos poderiam dedicar algumas horas do dia à revisão de matéria e a actividades de enriquecimento.

“O objectivo é que os miúdos não se desliguem da escola e, no meio de actividades lúdicas e desportivas, poderem ter algum apoio à aprendizagem”, defende.

Outra sugestão de Homem Cristo passa por criar apoios financeiros, pagos pelo Estado, para os pais procurarem alternativas em Centros de Estudo privados.

Contudo, no meio das lacunas de aprendizagem, falta avaliar e saber como solucionar o que se perdeu no recreio, em termos de sociabilização. No caso dos adolescentes, por exemplo, este é um ponto essencial e que pode nunca ser recuperável.

ZAP //

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5 Comments

  1. ” Há que comer nas Ferias”, sem duvida que será necessario continuar a dispensar uma boa alimentação para estes jovens, mesmo em tempo de ferias !……. “comer” talvez seja um termo inapropriado Sr. Ex Ministro!…. simplesmente “reduzir o tempo de frias” seria mais adequado.

  2. Uma correção ao artigo. No dia 5 voltam às escolas os alunos dos 2° e 3° ciclos (5° ao 9°). Os alunos do secundário (10°ao 12°) continuarão em ensino à distância até ao dia 15, no qual voltarão ao regime presencial.

  3. Acho por bem que as escolas fechem mais tarde p/ as ferias de Verão, isto para compensar as aulas on line, que não é a mesma coisa que as presenciais, principalmente para os alunos do 1º e 2º ciclos.

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