Não vai haver condições para abrir muitas salas de espectáculos a 1 de Junho, como está permitido, alerta-se no sector das Artes, onde há “há muita gente a passar fome”. Alguns artistas só conseguiram receber 50 euros de apoio da Segurança Social.
Estes alertas são feitos por Paula de Carvalho, do Movimento pelos Profissionais de Artes Performativas, em declarações no programa “As Três da Manhã” da Rádio Renascença.
“Não vai ser fácil abrir. As pessoas não têm condições“, destaca Paula de Carvalho, notando que “estão paradas desde Março” e que “muitas pessoas tiveram de devolver todo o dinheiro que já tinham de bilhetes, tiveram de pagar lay-offs adiantados”.
“As condições não são as melhores para começar no dia 1 de Junho”, nota, frisando que “algumas empresas não têm já capacidade para abrir”.
Paula de Carvalho dá o exemplo de Filipe La Féria que fez notar que “o Politeama tem 700 e tal lugares e só pode abrir com 100”. “Com 100, não se consegue pagar um espectáculo”, aponta.
Por outro lado, não é certo que as pessoas apareçam para os espectáculos. “As pessoas estão a ir à praia, mas vão ao teatro? Vão ouvir fado? Como vai ser?”, questiona.
Paula de Carvalho nota que o sector precisa, “provavelmente, de 30 milhões na mão” e “a fundo perdido que foi o que fizeram outros países, nomeadamente Inglaterra, Itália, França, Alemanha”, diz.
“É uma situação complicada, há muita gente a passar fome, muitos dos mais novos, gente que começou há muito pouco tempo”, denuncia ainda, frisando que “há também pessoas que não o querem dizer”.
Paula de Carvalho destaca que os artistas têm, habitualmente, “contratos de três meses e depois estão quatro ou cinco sem trabalhar”. “Chama-se a isso intermitência e é exactamente a situação que já há muitos anos é falada pelos artistas e não é resolvida”, aponta.
Alguns dos artistas que descontam para a Segurança Social conseguiram receber algum apoio, mas muito pouco. Paula de Carvalho refere que, nestes casos, a Segurança Social fez “uma espécie de soma dos últimos meses, viu quanto dava e houve pessoas a receber 50 euros“.
Em cima da mesa, está uma proposta para que seja criado uma “espécie de seguro”, como existe “em França, também na Bélgica e no Luxemburgo”, para que quando os artistas “ficam sem trabalho, tenham sempre algo a que se agarrar”.
Na sexta-feira passada, António Costa anunciou um apoio de 30 milhões de euros para a Cultura, no âmbito da pandemia de covid-19, que foi recebido com “preocupação” pelo sector das Artes. Há dúvidas quanto à forma como será aplicado o dinheiro e de onde é que ele vem.