Há mais médicos que vagas. Mas o “sinal de alarme” é que ficaram 50 por preencher

Há mais médicos a querer tirar especialização que vagas disponíveis mas, mesmo assim, ficaram por preencher meia centena de inscrições no último concurso do Internato Médico.

De acordo com o Jornal de Notícias, o presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), Noel Carrilho, ficou “atónito e “muito preocupado” com o resultado do concurso do Internato Médico de 2021.

Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, realça que nos encontramos perante “o maior sinal de alarme”.

Desde 2016 que, todos os anos, 300 a 500 médicos ficam de fora do Internato Médico. As vagas são todas preenchidas, mas insuficientes em relação à procura.

Este ano houve 50 lugares rejeitados, o que gerou espanto e preocupação.

A Administração Central do Sistema de Saúde referiu que “ficaram por preencher 50 vagas, distribuídas pelas especialidades de estomatologia, imuno-hemoterapia, medicina geral e familiar, medicina interna, patologia clínica e saúde pública”.

Dos 2260 médicos que habilitados que escolheram vagas para formação específica, 1871 foram colocados, sendo o total de vagas 1921, e 389 faltaram ou desistiram.

A maior parte das 50 vagas por preencher são em hospitais e centros de saúde da região de Lisboa e Vale do Tejo, de acordo com um levantamento feito pela FNAM.

Uma das principais razões que justificam as ausências, segundo a ACSS, é “a intenção de mudança de especialidade ou local de formação“.

A administração refere ainda que alguns dos médicos que integravam o processo atual realizaram a Prova Nacional de Acesso 2021 a 17 de novembro, adiando assim a escolha de especialidade para o final do próximo ano.

Argumentos que não reúnem consenso junto da FNAM e da Ordem dos Médicos, desde logo pela quantidade de médicos que preferiram não escolher uma vaga a ficar nas que havia disponíveis.

A FNAM considera que as vagas por preencher são uma situação “extremamente preocupante”, que põe em risco “os alicerces do Serviço Nacional de Saúde.

A federação salienta ainda que faltam condições de trabalho, os profissionais mais qualificados estão a sair do SNS, há muita desmotivação e descrédito numa carreira no serviço público, e há opções mais atrativas no privado e no estrangeiro.

Sem especialidade, os médicos recém-licenciados ficam sujeitos a trabalhar à hora, no setor público ou privado. Pode ser mais rentável, tendo em consta que o valor da hora é superior ao pago por quem tem contrato de trabalho.

Noel Carrilho sublinha assimetrias regionais que as escolhas dos médicos retratam. “Vemos que em algumas regiões, como Lisboa e Vale do Tejo, a qualidade da formação, as condições de trabalho e as perspetivas de futuro não cumprem critérios mínimos para os médicos aceitarem“.

Miguel Guimarães relembra que a qualidade do SNS advém da formação médica especializada. “Temos uma formação de excelência, das melhores do mundo, mas se os médicos não querem estas condições é muito mau sinal, diria mesmo que é o maior sinal de alarme que existe”.

Reflexão do Hospital de Santa Maria

No Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, que inclui o Hospital de Santa Maria, abriram 15 vagas para formação específica em Medicina Interna, mas apenas cinco foram preenchidas.

De acordo com a lista de colocados e com o mapa de vagas abertas, o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central, que já inclui Hospital de S. José, conseguiu preencher as 14 vagas de Medicina Interna.

No norte, o Centro Hospitalar Universitário São João, de dimensão equiparável ao Santa Maria, também preencheu as 8 vagas abertas naquela especialidade.

O bastonário da ordem dos Médicos salienta que, “no lugar da ACSS e do Ministério da Saúde, chamava a administração para ver o que se passa com a Medicina Interna do Santa Maria, para perceber porque que é que ninguém quer ir para lá“.

Miguel Guimarães afirma que a Medicina Interna do hospital em questão tem dado “imensos problemas“, já denunciados publicamente, nomeadamente o facto de os internos “acumularem muitas horas em bolsa que ficam por pagar“.

O Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) refere que já iniciou um processo de reflexão, sobre a realidade da Medicina Interna.

O CHULN reconhece que, de facto, é importante “adensar a reflexão específica sobre a realidade da Medicina Interna, em que no presente processo de escolhas houve, a nível nacional e especificamente no CHULN, um conjunto de vagas não preenchidas. Este processo, já foi iniciado, assumindo um caráter participado“.

ZAP //

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