Guterres também está “chocado” e diz que não justificou terror do Hamas: “Foi o contrário”

2

André Kosters / Lusa

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres

António Guterres nega ter justificado terror do Hamas, quando afirmou que os ataques “não vieram do nada, mas sim de 56 anos de ocupação”. Israel está a recusar vistos a representantes da ONU. António Costa defendeu o compatriota, afirmando que tem sido “exemplar”, perante a tragédia humanitária.

O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, diz-se “chocado com as interpretações erradas” das declarações que fez na terça-feira no Conselho de Segurança e negou ter justificado os atos de terror do Hamas.

“Isto é falso. Foi o oposto”, garantiu o ex-primeiro-ministro português.

“No início da minha intervenção de ontem, afirmei claramente – e passo a citar: ‘Condenei inequivocamente os horríveis e sem precedentes atos de terror de 7 de outubro cometidos pelo Hamas em Israel. Nada pode justificar o assassinato, o ataque e o rapto deliberados de civis – ou o lançamento de foguetes contra alvos civis'”, disse, repetindo parte do discurso que fez anteriormente no Conselho.

Guterres admitiu que falou das queixas do povo palestiniano, mas salientou que ao fazê-lo, também afirmou: “Mas as queixas do povo palestiniano não podem justificar os terríveis ataques do Hamas”, escreveu na rede social X (antigo Twitter).

“Guterres é exemplar” e “inequívoco”

António Costa enviou uma mensagem de solidariedade ao secretário-geral das Nações Unidas, considerando que, perante a “tragédia humanitária”, tem sido “exemplar” na afirmação humanista do Direito Internacional, disse, à agência Lusa, uma fonte oficial do executivo.

Antes, o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, já se tinha manifestado solidário com António Guterres, afirmando que Portugal “compreende e acompanha” a posição do secretário-geral das Nações Unidas sobre o conflito entre Israel e o Hamas.

“Compreendemos e acompanhamos inteiramente a posição de António Guterres, que foi inequívoco quando condenou o terrorismo do Hamas, que é absolutamente inaceitável. Foi absolutamente cristalino na análise que fez”, considerou Cravinho, que lamentou a polémica entre o Governo de Israel e o secretário-geral da ONU.

Israel quer dar lição à ONU

Após o incidente, Israel anunciou que vai recusar vistos a representantes das Nações Unidas após as declarações de António Guterres.

O anúncio foi feito pelo embaixador israelita na ONU, Guilad Erdan, que acrescentou que Israel já tinha começado a adotar esta política e que tinha recusado um visto ao subsecretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários, Martin Griffiths.

“É altura de dar uma lição aos altos funcionários da ONU”, disse Erdan, esta quarta-feira, numa entrevista à rádio do exército israelita.

“56 anos de ocupação”

Na terça-feira, na abertura de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, António Guterres considerou que “é importante também reconhecer que os ataques do Hamas não aconteceram num vácuo“, acrescentando que “o povo palestiniano tem sido submetido a 56 anos de ocupação sufocante”.

O secretário-geral da ONU defendeu que “as queixas do povo palestiniano não podem justificar os ataques terríveis do Hamas”, assim como “esses ataques terríveis não podem justificar a punição coletiva do povo palestiniano”.

No início da sua intervenção, o secretário-geral da ONU referiu que condena “inequivocamente os atos de terror horríveis e sem precedentes do Hamas em Israel” e disse que “nada pode justificar a morte, os ferimentos e o rapto deliberados de civis – ou o lançamento de foguetes contra alvos civis”.

Na mesma reunião, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Eli Cohen, acusou António Guterres de estar desligado da realidade e de mostrar compreensão pelo ataque do Hamas de 7 de outubro com um “discurso chocante”.

Na rede social X (antigo Twitter), o embaixador israelita na ONU, Gilad Erdan, pediu a demissão imediata de António Guterres.

ZAP // Lusa

2 Comments

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.