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Guerra de spreads é mau sinal. Banco de Portugal alerta para riscos no crédito à habitação

O Banco de Portugal está preocupado com a guerra de spreads entre Bancos na tentativa de atrair mais clientes para o crédito à habitação. O apertar da margem de lucro pode agravar o crédito malparado numa altura em que se teme uma possível nova bolha imobiliária.

O cenário que antecedeu a crise financeira que chegou em 2008 parece estar a repetir-se, com os Bancos a baixarem os spreads, ou seja, as suas margens de lucro, para ampliarem a carteira de clientes do crédito à habitação. Nalguns casos, os spreads mínimos já são de 1%.

Com spreads mais baixos os créditos tornam-se mais apelativos, o que leva mais pessoas a recorrerem a empréstimos para comprar casa. Ora, numa altura em que os preços do imobiliário estão inflacionados, isso pode vir a ser um problema para o futuro próximo, agravando o crédito malparado, conforme alerta o Banco de Portugal (BdP) no Relatório de Estabilidade Financeira de Junho.

“A tentativa de aumentar o volume de crédito através da fixação de spreads de taxa de juro que não cubram o risco de crédito de maneira sustentável poderá resultar, no futuro, num maior nível de incumprimento“, aponta o BdP.

Portugal está entre os países da Europa que tem índices mais altos de crédito mal parado. Por outro lado, o nosso país também está entre os que mais arriscam a possibilidade de sofrer com uma bolha imobiliária que pode rebentar no curto prazo, dada a sobrevalorização do mercado imobiliário.

Perante esta realidade de sobrevalorização, “é importante que as instituições tenham particular cuidado na definição dos critérios de concessão de crédito”, recomenda o BdP.

Abrandamento económico pode nivelar preços por baixo

O BdP também avisa que pode ocorrer uma “interrupção brusca” do dinamismo do mercado imobiliário, considerando que “eventuais alterações no quadro regulamentar nacional”, juntamente com outros factores, podem fazer baixar os preços.

“O abrandamento mais acentuado da actividade económica a nível global, decorrente em particular da materialização de eventos de tensão geopolítica, aumentos dos prémios de risco e eventuais alterações no quadro regulamentar nacional sobre o mercado imobiliário poderão vir a traduzir-se numa interrupção brusca do dinamismo do imobiliário e, consequentemente, num ajustamento em baixa dos preços“, segundo o comunicado que acompanha o relatório.

O supervisor considera que “o mercado imobiliário português continua a estar particularmente dependente da intervenção de não residentes, seja por via do turismo, seja por via do investimento directo”.

Esta situação constitui um potencial risco para a estabilidade financeira no caso de haver “uma eventual redução acentuada e brusca da procura de imóveis por não residentes”, considera o BdP.

“No último ano, o mercado imobiliário português manteve um dinamismo elevado, com um reflexo directo no volume de transacções e crescimento dos preços”, aponta o relatório do supervisor, notando que “esta dinâmica tem sido justificada pelo crescimento económico” e “pelo ambiente de baixas taxas de juro e elevada liquidez, o qual induz comportamentos de procura por rendibilidade por parte dos agentes económicos”.

Neste sentido, o BdP adverte que “os bancos portugueses continuam a concentrar uma parte significativa das suas exposições no mercado imobiliário – essencialmente por via do crédito à habitação -, apesar da ligeira redução observada desde 2016″.

“A dinâmica dos preços pode representar um risco para a estabilidade financeira se introduzir prociclicidade no crescimento do crédito, nomeadamente num contexto de valorização excessiva dos preços”, reforça o supervisor no relatório.

ZAP // Lusa

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