Greve e tolerância de ponto deixam mais de 8 mil cirurgias em risco

A greve dos médicos, que começa esta quarta-feira e termina na quinta, coincide com a tolerância de ponto concedida pelo Governo a propósito da visita do Papa a Fátima. Os dois sindicatos asseguram que os serviços mínimos estão garantidos mas há mais de oito mil cirurgias e mais de 100 mil consultas em risco.

Segundo o Jornal de Notícias, cerca de 8.600 cirurgias e 182 mil consultas externas de especialidade estão em risco de ser adiadas esta semana, por causa da greve dos médicos e da tolerância de ponto decretada pelo Governo a propósito da visita do Papa Francisco.

Esta terça-feira, uma delegação dos dois sindicatos médicos – Sindicato Independente dos Médicos e Federação Nacional dos Médicos – desloca-se à residência oficial de António Costa para para pedir a intervenção do primeiro-ministro.

De acordo com a TSF, há mesmo algumas consultas e cirurgias programadas que já estão a ser reagendadas para evitar que os doentes sejam prejudicados com esta situação.

O presidente do Sindicato Independente dos Médicos, Jorge Roque da Cunha, lembra à rádio que os serviços mínimos estão garantidos e que os doentes em situação de urgência podem ficar descansados, apesar de prever um impacto forte com este protesto.

Entretanto, a agência Lusa está a adiantar que as urgências, quimioterapia, radioterapia, transplantes e diálise são alguns dos serviços públicos de saúde que estão garantidos.

Entre os serviços mínimos a cumprir durante a paralisação estão também a imuno-hemoterapia, cuidados paliativos em internamento, dispensa de medicamentos para uso hospitalar e punção folicular na procriação medicamente assistida.

Numa carta aberta aos cidadãos, o Sindicato Independente dos Médicos (SIM), um dos dois que convocaram a greve, explica que a paralisação é uma “forma de protesto contra a degradação do trabalho e do Serviço Nacional de Saúde“.

No documento, o sindicato garante que “serão escrupulosamente cumpridos os serviços mínimos, os mesmos que são disponibilizados nas 24 horas de domingos e feriados”, com a greve a afetar o trabalho normal e o trabalho suplementar.

A greve, que começa à meia-noite desta quarta-feira e termina às 24h de quinta, foi convocada pelos dois sindicatos médicos, sendo apoiada explicitamente pela Ordem dos Médicos e pelas outras associações médicas sectoriais.

Numa tentativa de se antecipar ao que preveem que sejam tentativas governamentais de descredibilizar os profissionais de saúde, os sindicatos tentam, numa carta aberta aos cidadãos, “desmentir as esperadas calúnias”.

Alegam que não são uma classe privilegiada, sublinhando que “a maioria dos médicos nos hospitais” ganha menos de dois mil euros líquidos. “Claro que há quem ganhe mais. À custa de trabalho em serviço de urgência, de 24 horas seguidas de trabalho, fazendo perigar a sua saúde, a sua estabilidade familiar e, mais grave, o atendimento correto que os doentes merecem; ou também à custa de um múltiplo emprego”, escreve o SIM.

É ainda desmentido que os médicos sejam os que mais ganham na Função Pública, com os sindicatos a recordarem que um clínico só no fim da sua vida ativa pode aspirar a ganhar o que um juiz ou magistrado recebe ao fim de sete anos de exercício num tribunal ou comarca de primeira instância. “Um médico nunca chegará ao vencimento de um professor universitário”, acrescenta ainda o sindicato.

Outro dos pontos que os sindicalistas pretendem esclarecer é a coincidência de datas com a comemoração do centenário das aparições de Fátima, uma vez que a greve decorre até um dia antes da chegada a Portugal do Papa Francisco.

“A visita do Papa está prevista apenas para o fim da tarde do dia 12. O anúncio da tolerância de ponto é da total responsabilidade do Governo, que já sabia, semanas antes, das datas marcadas para a greve nacional” dos médicos, argumentam os sindicalistas.

Entre as razões que levaram à greve convocada pelos dois sindicatos estão a exigência de redução do número de horas máxima de urgências, a reposição integral do pagamento das horas extraordinárias e a redução do número de utentes por médico de família.

ZAP // Lusa

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