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Greve sem precedentes pára Hollywood. Atores não querem “ser trocados por máquinas”

Os argumentistas de Hollywood estão em greve, há mais de dois meses. A eles, juntam-se agora os atores. Exigem garantias face aos avanços das plataformas streaming e da IA (inteligência artificial). O ZAP falou com Luís Gomes – argumentista e engenheiro informático – que admitiu que a IA pode facilitar o trabalho dos criativos, mas jamais poderá substitui-lo.

Depois dos argumentistas, a partir desta sexta-feira, os atores de Hollywood também vão avançar com uma greve que vai parar uma das mais importantes indústrias de entretenimento do mundo.

Os argumentistas de Hollywood estão em greve, desde o início de maio. Agora, o sindicato dos atores norte-americanos anunciou uma greve oficial, que arrancou logo à meia-noite.

“O conselho nacional do SAG-AFTRA votou unanimemente por uma ordem de greve contra estúdios e emissoras”, anunciou Duncan Crabtree-Ireland, diretor executivo nacional do sindicato, que, de acordo com a Lusa, representa 160 mil atores e outros profissionais da indústria cinematográfica.

As queixas que motivam esta greve dos atores assemelham-lhe às dos argumentistas: os profissionais do ramo exigem melhorias salariais e nas condições de trabalho, uma remuneração mais justa quando o seu trabalho é reproduzido nas plataformas de streaming e garantias face aos avanços da IA (inteligência artificial).

O ZAP esteve à conversa com o argumentista português Luís Gomes, que considera que “continua a haver algum desprimor em relação àquilo que é o trabalho dos argumentistas”, e, por isso, entende bem os motivos dos protestos, nos EUA.

“As pessoas ainda continuam a achar que é uma espécie de um trabalho menor. Aquilo que a maioria das pessoas acha, e até algumas produtoras ainda acham, é que basta teres um bom ator e a coisa faz-se. Isso é como começar a construir uma casa pelo teto. Primeiro há que ter as bases daquilo”, disse o argumentista.

Luís Gomes considera que o seu trabalho é valorizado, mas não devidamente

Quanto às ameaças da IA no mundo artístico, ninguém melhor do que uma pessoa com conhecimento de causa nas duas áreas, para nos falar da ‘problemática’.

Além de argumentista, Luís Gomes é engenheiro informático, e tem “quase a certeza” de que não vai haver risco – pelo menos para os argumentistas.

“Aquilo não tem consciência, não tem criatividade, nem faz ideia do que é o certo e do que é o errado. O que ela [IA] pode fazer é, através de um conjunto de dados que lhe são fornecidos, responder a determinadas perguntas”, explicou Luís Gomes.

“Não consegue fazer coisas novas, porque ela só é capaz de responder com aquilo que está para trás. Portanto, em tudo o que sejam trabalhos de construção criativa nunca vai ser possível, porque tem de haver sempre aquela percentagem do rasgo individual de criatividade“, acrescentou.

Luís Gomes admite, no entanto, que há ferramentas que podem facilitar – mas nunca extinguir – o trabalho dos argumentistas, na parte da pesquisa, por exemplo.

Já os atores poderão não ter tantas garantias quanto a esta problemática. A classe teme ser substituída por clones, com vozes e imagens geradas através de IA.

A SAG-AFTRA confessou o receio dos profissionais serem substituídos por máquinas: “todos correremos o risco“.

O streaming também tem vindo a ser motivo de protesto. Os valores pagos nestas plataformas são baixos e não se podem controlar – o que perturba a remuneração residual de atores e argumentistas, em cada repetição de um filme ou série online.

Hollywood está – ou estava, até ontem – a trabalhar apenas com textos escritos antes de maio. Os atores juntam-se agora aos argumentistas, naquela que se prevê que seja a maior paralisação da indústria dos últimos 60 anos.

Os atores de Hollywood já não faziam greve desde 1980. Já os argumentistas, sempre mais reivindicativos e, aparentemente, com mais motivos de queixa, entre 2007 e 2008 levaram a cabo uma greve de 100 dias, que custou quase dois milhões de euros à industria.

Miguel Esteves, ZAP //

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