Gonorreia pode ter dado surpreendente benefício evolutivo aos nossos avós

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Oregon State University / Wikimedia

Neisseria gonorrhoeae, bactéria causadora da gonorreia.

Os avós podem ter um surpreendente benefício evolutivo, que foi desencadeado patógenos infecciosos, como a gonorreia.

Investigadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, descobriram um conjunto de mutações genéticas que previnem o declínio cognitivo e a demência em adultos mais velhos.

Os resultados do novo estudo sugerem que a pressão seletiva de patógenos infecciosos, como a gonorreia, pode ter sido a razão por trás do surgimento desta variante genética.

Os humanos são uma das poucas espécies em que as mulheres passam pela menopausa. Na grande maioria dos animais, as fêmeas continuam a poder ter crias até à morte — mas no nosso caso e também das baleias, dos elefantes e das girafas, com o avançar da idade, as mulheres e fêmeas assumem o papel de avó e dedicam-se a cuidar da próxima geração em vez de ter mais filhos.

Do ponto de vista biológico, o objetivo é a reprodução, pelo que a razão para a existência da menopausa continua a ser uma incógnita. Uma possível resposta é a “hipótese da avó” — a ideia de que as fêmeas que já não se podem reproduzir podem ajudar os seus filhos a criar os netos, incentivando-os assim a ter mais filhos.

Agora, os autores do novo estudo sugerem que os humanos apanharam uma forma mutante adicional de CD33 — um recetor nas células do sistema imunitário que normalmente liga-se ao ácido siálico, uma forma de açúcar que cobre todas as células humanas.

Vários estudos mostraram que esta variação de CD33 é protetora contra a doença de Alzheimer de início tardio.

Os investigadores procuraram descobrir quando é que essa variação genética surgiu originalmente e descobriram sinais de forte seleção positiva, indicando que algo estava a forçar o gene a desenvolver-se mais rapidamente do que o previsto, explica a Interesting Engineering.

Os cientistas descobriram que os nossos antepassados evolutivos mais próximos, os Neandertais e os Denisovanos, não tinham esta variante específica de CD33 nos seus genomas.

“Estas descobertas sugerem que a sabedoria e o cuidado de avós saudáveis podem ter sido uma importante vantagem evolutiva que tivemos sobre outras espécies antigas de hominídeos”, diz o coautor Ajit Varki.

Alguns biólogos acreditam que os genes que evitam a sobreposição geracional no nascimento de crianças foram favorecidos pela seleção natural, o que pode explicar a queda a pique nos óvulos nas mulheres a partir dos 40 anos e, eventualmente, a menopausa. Este fenómeno leva a que as gerações mais velhas já não possam ter filhos precisamente na altura em que começam a ter netos e a ser avós.

Embora este novo estudo forneça provas que apoiam a “hipótese da avó”, a teoria evolutiva diz que o que impulsiona a seleção genética é o sucesso reprodutivo — não a saúde cognitiva pós-reprodutiva.

O papel da gonorreia

Assim, os autores sugerem que a gonorreia, uma infeção sexualmente transmissível altamente contagiosa causada por bactérias, pode ter influenciado a evolução humana.

Mas, afinal, o que é que a gonorreia tem a ver com a evolução humana e com o CD33?

Os açúcares aos quais os recetores CD33 se ligam também estão na superfície das bactérias da gonorreia. As bactérias podem enganar as células imunitárias, fazendo-as pensar que não são intrusos externos.

O estudo sugere que os humanos evoluíram a forma mutante de CD33 que não tem um local de ligação ao açúcar como mecanismo de defesa. Os resultados foram publicados recentemente na revista científica Molecular Biology and Evolution.

Os autores argumentam que os humanos herdaram a versão mutante do CD33 primeiro para se proteger contra a gonorreia e, mais tarde, e contra a demência.

ZAP //

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