A “hipótese da avó” mostra a sua grande importância biológica e na evolução humana

jeremytarling / Flickr

A espécie humana é das poucas em que as fêmeas passam pela menopausa e não podem ter filhos na idade avançada — mas este fenómeno pode ter sido um trunfo na nossa evolução.

Os humanos são uma das poucas espécies em que as mulheres passam pela menopausa. Na grande maioria dos animais, as fêmeas continuam a poder ter crias até à morte — mas no nosso caso e também das baleias, dos elefantes e das girafas, com o avançar da idade, as mulheres e fêmeas assumem o papel de avó e dedicam-se a cuidar da próxima geração em vez de ter mais filhos.

Do ponto de vista biológico, o objetivo é a reprodução, pelo que a razão para a existência da menopausa continua a ser uma incógnita. Uma possível resposta é a “hipótese da avó” — a ideia de que as fêmeas que já não se podem reproduzir podem ajudar os seus filhos a criar os netos, incentivando-os assim a ter mais filhos.

As primeiras referências a esta teoria datam do final da década de 80 e partiram da antropóloga Kristen Hawkes, lembra a Discover. A ideia surgiu quando a cientista estudava a comunidade Hadza, no norte da Tanzânia, e reparou que a presença da avó aumentava as probabilidades da criança sobreviver.

Já se tinham descoberto padrões semelhantes nos séculos XVII e XVIII, com registos da Igreja Católica dos colonos franceses no Quebec. Os dados revelaram que as mulheres cujas mães ainda estavam vivas tinham mais filhos e que a maioria deles sobrevivia até à idade adulta e que quanto mais próxima era a relação entre as mães e as avós, melhores eram as hipóteses para as crianças.

Alguns biólogos acreditam que os genes que evitam a sobreposição geracional no nascimento de crianças foram favorecidos pela seleção natural, o que pode explicar a queda a pique nos óvulos nas mulheres a partir dos 40 anos e, eventualmente, a menopausa. Este fenómeno leva a que as gerações mais velhas já não possam ter filhos precisamente na altura em que começam a ter netos e a ser avós.

No caso das abelhas, por exemplo, são as trabalhadoras mais jovens e estéreies que ajudam os adultos mais velhos que têm filhos. Esta dinâmica não acontece connosco devido à “dispersão com preconceito feminino“, segundo a professora de evolução Nichola Raihani, já que nas sociedades de caçadores-coletores, as mulheres saíam dos grupos para viverem com a família dos seus parceiros.

Este cenário “cria um potencial conflito entre ela e a sogra”. “Se ambas tentassem ter filhos, ao mesmo tempo, então todas as crianças iriam sofrer“, aponta.

O desfecho desta batalha depende do risco genético que cada mulher tem — a sogra será relacionada em um quarto com os seus netos, mas mulher mais jovem não partilha ADN com os filhos da mulher mais velha, o que significa que a avó terá mais a perder, já que os seus netos também sofrem neste cenário.

Para além das vantagens logísticas na criação dos netos, as avós são também importantes pela experiência de vida que têm. Nas partes rurais do Gana, as avós são responsáveis pelos cuidados durante a gravidez das filhas ou noras em zonas onde o acesso aos cuidados de saúde é escasso. Neste caso, notam-se semelhanças com as orcas já pós-menopausa, que guiam os mais novos na busca de comida.

ZAP //

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