Golpe militar na Guiné-Bissau. “Queriam matar o presidente, o primeiro-ministro e os ministros”

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António Amaral / Lusa

Golpe de Estado na Guiné-Bissau.

Soldados guineenses levaram a cabo uma tentativa de golpe militar, que acabou por falhar. “Queriam matar o presidente, o primeiro-ministro e os ministros”, disse Umaro Sissoco Embaló.

Esta terça-feira foram ouvidos disparos de bazuca e rajadas de metralhadora junto ao palácio do Governo da Guiné-Bissau. Decorria, na altura, um Conselho de Ministros com a presença do Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, e do primeiro-ministro, Nuno Nabiam.

Trato-se de uma tentativa — falhada — de golpe militar por parte de um grupo de soldados guineenses. Vários militares cercaram o edifício e estabeleceram um perímetro de segurança de 500 metros.

“Eles não queriam apenas dar um golpe de Estado, queriam matar o Presidente da República, o primeiro-ministro e os ministros”, afirmou Umaro Sissoco Embaló, na Presidência da República, em Bissau, depois de uma declaração à imprensa, seguida de perguntas.

Pelo menos seis pessoas morreram no tiroteio ocorrido no Palácio do Governo durante a tentativa de golpe de Estado na Guiné-Bissau, disseram à Lusa fontes militares.

Fontes do Hospital Nacional Simão Mendes, em Bissau, tinham avançado à Lusa, durante a tarde, que receberam quatro feridos, um dos quais em estado grave.

O Presidente falou aos jornalistas acompanhado do primeiro-ministro, Nuno Gomes Nabiam do vice-primeiro-ministro, Soares Sambu, e de outros membros do Governo e do seu gabinete.

O Presidente guineense afirmou que o país está de luto porque “alguns valentes filhos” tombaram hoje “por causa da ambição de duas ou três pessoas, que entendem que o país não tem direito de viver em paz”.

“Custava-me acreditar que um dia poderíamos chegar a este ponto. Ou que os filhos da Guiné poderiam voltar a perpetrar outro ato de violência. Nem podem imaginar este ato de violência.

“Preferiria que as pessoas me atacassem pessoalmente”, lamentou o Presidente guineense.

Nas declarações aos jornalistas, Umaro Sissoco Embaló salientou que não nasceu para ser “eternamente Presidente” e que está no lugar pela “confiança da maioria do povo guineense”.

“Apelo à comunidade internacional a continuar a apoiar a Guiné-Bissau porque este povo precisa”, disse.

Entretanto, Umaro Sissoco Embaló recorreu ao Facebook para anunciar que “a calma voltou a Bissau”.

Relações tensas em Bissau

A relação entre Umaro Sissoco Embaló e Nuno Gomes Nabiam tem vindo a azedar nos últimos meses.

Embaló autoproclamou-se Presidente em fevereiro de 2020 depois de ter vencido a segunda volta das eleições, que foram altamente contestadas pela oposição, recorda o Público. O chefe de Estado derrubou o Governo do PAIGC e tem sido acusado de perseguição aos opositores, jornalistas e ativistas políticos e de direitos humanos.

A disputa com Nuno Gomes Nabiam deu-se quando o Governo mandou reter no aeroporto de Bissau um avião, vindo da Gâmbia, com autorização presidencial. O primeiro-ministro guineense impediu o avião de sair do país por suspeita de que estariam armas a bordo e anunciou uma investigação externa.

A peritagem acabou por concluir que não havia armas a bordo do avião. O incidente não passou em branco perante Umaro Sissoco Embaló que, na cerimónia das comemorações do 56.º aniversário da criação das Forças Armadas, ignorou Nabiam.

Embaló chegou mesmo a ameaçar demitir Nabiam, lembrando que este não chegou ao cargo por eleições legislativas, mas por indicação sua, detalha o SAPO24.

Os incidentes junto ao Palácio do Governo aconteceram também poucos dias após uma remodelação do Executivo, decidida por Umaro Sissoco Embaló.

O ex-secretário de Estado da Ordem Pública guineense, Alfredo Malu, foi afastado do Governo. Malu argumentou que o seu afastamento esteve relacionado com a sua atuação no caso do avião retido no aeroporto de Bissau.

Marcelo condena “atentados à ordem constitucional”

O chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, falou por telefone com o Presidente da Guiné-Bissau, a quem transmitiu a sua condenação dos “atentados à ordem constitucional” neste país africano.

Esta informação consta de uma nota publicada no sítio oficial da Presidência da República na Internet, que tem como título “Presidente da República condena ataque ao Palácio do Governo em Bissau”.

Segundo esta nota, o chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, “acompanhou a par e passo, com preocupação, a situação em Bissau, tendo já falado telefonicamente com o Presidente Sissoco Embaló, a quem transmitiu a sua condenação veemente, que é a mesma do Governo português e da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), a estes atentados à ordem constitucional na Guiné-Bissau”.

O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, condenou hoje as “movimentações armadas” em Bissau e salientou não haver notícia de qualquer problema entre os portugueses no país.

“Portugal condena qualquer tentativa de, pela violência, impedir o normal funcionamento dos órgãos de soberania da Guiné-Bissau, nos termos da Constituição”, disse Santos Silva em declarações à Lusa.

ZAP // Lusa

3 Comments

  1. Este pessoal das Áfricas não se entende . Têm países muito bonitos com muitos recursos naturais e podiam ser países ricos e pacíficos e andam todos á batatada só por quererem ser governantes e mandar nos outros.

  2. É disto mesmo que eles percebem, foram bons alunos da URSS, só lhes falta o incentivador Manuel Alegre na tal rádio a partir da Argélia, para animar mais a malta!

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