O líder dos golpistas na Guiné-Conacri prometeu, esta segunda-feira, criar um “governo de unidade nacional” para liderar um período de “transição” política e assegurou que não haverá “caça às bruxas” contra o antigo Governo.
“Será aberta uma consulta para descrever as grandes linhas da transição, depois será instituído um governo de unidade nacional para liderar a transição”, disse o tenente-coronel Mamady Doumbouya num discurso, sem especificar a duração da consulta ou da transição.
Doumbouya transmitiu ainda uma mensagem aos parceiros e investigadores estrangeiros de que os novos líderes da Guiné-Conacri iriam manter os seus compromissos e pediu às empresas mineiras que continuassem as suas atividades, neste país que é um importante produtor de bauxite e minério.
O comité criado pelos golpistas assegura “parceiros económicos e financeiros da continuação normal das atividades no país”, disse Doumbouya num discurso, acrescentando que garante “aos parceiros que respeitará todas as suas obrigações”.
Os golpistas capturaram o Presidente Alpha Condé, no domingo, e dissolveram as instituições de Estado do país. Foi instituído um recolher obrigatório noturno e a Constituição do país e a Assembleia Nacional foram ambas dissolvidas.
A junta militar recusou-se a revelar quando pretende libertar Condé, mas assegurou que o Presidente deposto, com 83 anos, tem acesso a cuidados médicos e aos seus médicos.
Imagens de Condé num vídeo divulgado pelos golpistas mostram-no calmo, em calças de ganga e camisa, sentado num sofá. Os golpistas asseguraram que se encontra de boa saúde e está a ser “bem tratado”.
A CEDEAO (Comunidade Económica de Estados da África Ocidental) apelou à libertação imediata de Alpha Condé e ameaçou impor sanções, se esta exigência não vier a ser satisfeita.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, também já condenou “qualquer tomada de poder pela força das armas” e pediu a “libertação imediata” do chefe de Estado.
Portugueses no país estão bem
O embaixador de Portugal no Senegal, Vítor Sereno, disse, este domingo, estar a acompanhar “atentamente a evolução dos acontecimentos” na Guiné-Conacri, adiantando que os portugueses no país estão bem.
“A comunidade está tranquila e a gerir a situação”, disse à agência Lusa, chefe da missão diplomática de Portugal no Senegal, mas que está acreditado também para a Guiné-Conacri.
De acordo com o diplomata, na Guiné-Conacri vivem entre 50 a 60 portugueses, a grande maioria dos quais trabalha para a construtora Mota Engil.
A monitorização da situação dos portugueses está a ser feita em coordenação com restantes países da UE com representação diplomática no país e em “permanente articulação” com o representante especial da embaixada “no terreno”, segundo informou.
A Guiné-Conacri, país da África Ocidental que faz fronteira com a Guiné-Bissau e é um dos mais pobres do mundo e enfrenta, nos últimos meses, uma crise política e económica, agravada pela pandemia de covid-19.
A candidatura do Presidente a um terceiro mandato, considerado inconstitucional pela oposição, a 18 de outubro de 2020, gerou meses de tensão que resultou em dezenas de mortes. A eleição foi precedida e seguida da detenção de dezenas de opositores.
Vários defensores dos direitos humanos criticam a tendência autoritária observada durante os últimos anos na presidência de Condé e questionam as conquistas do início da sua governação.
Condé, um ex-opositor histórico, preso e até condenado à morte, tornou-se, em 2010, no primeiro Presidente eleito democraticamente no país.
ZAP // Lusa
Parece que fizeram lá um 25 de Abril à maneira deles. Se correr bem, os que agora criticam, depois aplaudem.