Genes resistentes aos antibióticos encontrados em nuvens

As bactérias resistentes aos antibióticos estão a aumentar. Estas encontram-se em locais onde humanos e animais se reúnem – como é o caso da superfície da Terra. Mas um grupo de investigadores encontrou-as num local extraordinário.

As bactérias e os fungos resistentes aos antibióticos são responsáveis pela morte de, pelo menos, 1,27 milhões de pessoas por ano em todo o mundo, de acordo com os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças, relatou o New Atlas.

A luta contra estas superbactérias está a tornar-se cada vez mais difícil, embora os investigadores estejam a trabalhar em alguns métodos inovadores, incluindo a utilização de ouro e antibióticos que mudam de forma.

Devido à ameaça significativa para a saúde pública que representa os micróbios resistentes aos antibióticos, é fundamental aprender o mais possível sobre estes e sobre a forma como se movem no nosso planeta.

Foi isso que os investigadores da Université Laval, no Canadá, e da Université Clermont Auvergne, em França, se propuseram fazer quando investigaram as nuvens que flutuam em torno de um vulcão adormecido na região do Maciço Central, em território francês. Os resultados foram recentemente divulgados na Science of The Total Environment.

Trabalhando a partir de uma estação meteorológica localizada a 1.465 metros de altitude, no cume do Puy de Dôme, realizaram 12 sessões de recolha de amostras de nuvens ao longo de dois anos.

Não só descobriram que as nuvens continham cerca de 8000 bactérias por mililitro de água, mas que havia, em média, 20 800 cópias de genes resistentes a antibióticos no mesmo volume.

Observaram também que as nuvens que tinham percorrido trajetos que as levavam ao oceano tinham diferentes tipos de bactérias resistentes a antibióticos do que as que passavam exclusivamente por terra – estas últimas tinham taxas mais elevadas de bactérias resistentes a antibióticos utilizados no gado.

Embora a atmosfera seja há muito entendida como um ponto de trânsito para as bactérias, foi surpreendente para os investigadores encontrar nas nuvens os mesmos níveis de genes que encontrariam na superfície do planeta.

“Este é o primeiro estudo que mostra que as nuvens albergam genes resistentes a antibióticos de origem bacteriana em concentrações comparáveis às de outros ambientes naturais”, afirmou Florent Rossi, da Université Laval, o primeiro autor do estudo.

“Estas bactérias vivem normalmente à superfície da vegetação ou do solo. São aerossolizadas pelo vento ou por atividades humanas, e algumas delas sobem para a atmosfera e participam na formação de nuvens”, acrescentou.

Segundo os autores do estudo, a elevada concentração de genes resistentes aos antibióticos nas nuvens é provavelmente causada pela utilização desses fármacos na criação de animais.

“O nosso estudo mostra que as nuvens são uma via importante para a disseminação de genes resistentes aos antibióticos a curto e longo prazo”, afirmou Rossi. “Idealmente, gostaríamos de localizar fontes de emissão resultantes de atividades humanas para limitar a dispersão destes genes”, concluiu.

ZAP //

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