Gémeas roubadas à nascença reunidas aos 19 anos — graças ao Got Talent

Num inesperado volte-face do destino, um programa de talentos e um grupo no Facebook desempenharam um papel crucial na reunião de duas gémeas idênticas, Amy e Ano, que foram adotadas por famílias diferentes depois de terem sido roubadas e separadas à nascença.

Raptadas à nascença, separadas há quase 20 anos e sem saberem da existência uma da outra, Ano e Amy encontraram-se finalmente. Graças ao TikTok e a um conhecido programa televisivo de talentos.

O emocionante reencontro das duas gémeas teve lugar em Tbilisi, capital da Geórgia — país onde nos últimos anos milhares de crianças recém nascidas foram roubadas.

A jornada extraordinária das duas irmãs começou quando Amy Khvitia, então com 12 anos, estava a assistir ao “Georgia’s Got Talent” em casa da avó e reparou que havia uma rapariga incrivelmente parecida consigo no programa.

“Toda a gente começou a telefonar à minha mãe e a perguntar porque é que eu estava a dançar no Georgia Got Talent com outro nome”, contra Amy à BBC.

Esta semelhança surpreendente levou a família adotiva de Amy a desencadear uma busca pela verdade — que levaria anos a desvendar.

A família de Amy contou com a ajuda de um grupo no Facebook chamado “Vedzeb,” que significa “Estou à procura” em georgiano, que desempenhou um papel crucial na sua jornada.

Criado pela jornalista Tamuna Museridze, o grupo tem como objetivo reunir famílias afetadas por adoções ilegais na Geórgia. Através do Vedzeb, a família de Amy conseguiu contactar a família de Amo Sartania, a sua irmã gémea.

Há 19 anos, as mães de Amy e Ano, que não se conheciam, tinham adotado as meninas como bebés indesejados, sem saberem que eram gémeas.

Apesar das discrepâncias nos seus certificados de nascimento oficiais, os seus interesses comuns em música, dança, e principalmente uma doença genética, não podiam ser ignorados — e levou as gémeas a confrontar as suas famílias.

Testes de DNA permitiram confirmar que as duas adolescentes eram gémeas. Não foi uma surpresa. “Parecia que estava a olhar para mim própria”, diz Amo. “tínhamos exatamente a mesma cara, exatamente a mesma voz“.

Entretanto, uma vez mais o Vedzeb levou à identificação da mãe biológica das  meninas. Depois de ler um post no grupo, uma jovem alemã comentou que a sua mãe, Aza, tinha dado à luz duas gémeas numa maternidade na Geórgia, e que lhe tinham dito que as crianças tinham morrido pouco depois de nascer.

Mas agora, revelou a jovem, “a mãe estava com muitas dúvidas“.  E uma vez mais, os testes de DNA esclareceram as dúvidas. Aza era a mãe das gémeas.

Há uns dias, teve finalmente lugar, num hotel em Zurique, o emocionante reencontro das duas gémeas com a mãe biológica.

Nada menos do que um milagre“, diz Ano.

O grupo de Tamuna Museridze tem ajudado a desmascarar a história sombria de tráfico organizado de crianças na Geórgia, um problema sistémico no país que remonta aos anos 1950 e envolve médicos corruptos e indivíduos de várias camadas da sociedade.

Milhares de bebés foram vítimas deste comércio ilegal, com mães enganadas sobre o destino dos seus bebés e crianças vendidas a famílias estrangeiras.

Museridze e a advogada de direitos humanos Lia Mukhashavria estão agora a levar estes casos aos tribunais — procurando acesso aos documentos de nascimento e exigindo  justiça para as vítimas.

ZAP //

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