O gato Larry de Downing Street é mais importante para o Governo britânico do que pensa

Parrot of Doom

Gato Larry à entrada do n.10 de Downing Street

A tradição de ter gatos nos edifícios governamentais já tem várias décadas no Reino Unido. Os animais são instrumentos de relações públicas importantes para os políticos.

Nos últimos doze anos, o Reino Unido teve cinco primeiros-ministros, seis Ministros do Interior e sete Ministros das Finanças. No entanto, uma coisa permaneceu constante: Larry continua a ser o principal caçador de ratos de Downing Street.

Nomeado pelo ex-primeiro Ministro David Cameron em 2011, Larry, o gato, conseguiu manter a sua posição política mesmo no meio de tempos tumultuosos como o Brexit ou a pandemia, mostrando-se mais resiliente do que muitos dos principais líderes do país. A popularidade do diplomata peludo é evidente, com a sua conta não oficial no Twitter a ter três vezes mais seguidores do que Jeremy Hunt, Ministro das Finanças.

Larry não é o único guardião felino dos edifícios governamentais britânicos, com a mãe Evie e o filho Ossie a também serem presenças constantes no Cabinet Office. A verdade é que o amor dos britânicos pelos gatos no mundo da política não é novo.

“Caça-ratos” oficiais

Grande parte dos departamentos governamentais no Reino Unido estão em edifícios antigos e com constantes infestações de ratos. Uma forma eficiente e fofinha de combater este problema é ter um gato “caça-ratos” oficial.

A tradição dos felinos do Governo começou com um gato preto chamado Peter. Tal como ainda é o caso hoje, os cuidados com Peter eram financiados através de contribuições voluntárias de funcionários públicos, explica o Politico.

No entanto, o animal era tão bem alimentado e mimado que deixou de se interessar pela caça de ratos. A preguicite aguda de Peter agravou-se até que o Ministério do Interior requisitou um orçamento alimentar formal ao Ministério das Finanças, numa tentativa de incentivar o gato a voltar à sua caça de ratos e pondo fim aos constantes petiscos trazidos pelos funcionários.

Mas o fenómeno de celebridade do gato do Governo só começou mais tarde, com Peter III. De acordo com Chris Day dos Arquivos Nacionais, a aparição de Peter III num programa da BBC em 1958 iniciou uma série de reportagens sobre o animal, catapultando-o para a fama e valendo-lhe uma legião de fãs.

Quando Peter III faleceu em 1964, o Minstério do Interior até pagou uma lápide para o animal num cemitério de animais de estimação em Londres e o Governo recebeu condolências de todo o mundo. O tenente-governador da Ilha de Man até doou uma gata Manx chamada Peta para consolar os funcionários.

Os gatos também têm escândalos

Peta provou ser mais controversa do que seus antecessores, tendo até sido descrita como “excessivamente gorda e preguiçosa porque tinha sido alimentada com muitas guloseimas”, segundo Day.

“Também existe a possibilidade de ela ter lutado com o gato pessoal do [então primeiro-ministro] Harold Wilson, Nemo, e ferido Mary [a esposa de Wilson] quando ela estava a tentar separar os gatos, mas ninguém sabe”, acrescenta.

Já diz o ditado “diz-me com quem andas e eu dir-te-ei quem és” e parece que Peta não foi a única gata do Governo a viver segundo estas palavras, tendo vários patudos tido os seus próprios escândalos, tal como os seus donos.

Humphrey, um gato que foi designado funcionário público em 1989, foi uma vez acusado de matar pintaínhos de melros. O Governo saiu logo em sua defesa, afirmando que Humphrey tinha uma doença e que “não podia ter caçado nada mesmo que lhe apresentasse um pato assado com molho de laranja num prato”.

Com a reforma de Humphrey, o Governo acabou por pôr um fim à tradição de financiar os cuidados dos felinos.

Uma arma de relações públicas

Embora a tradição de gatos financiados pelo Estado tenha acabado, os gatos continuam a trabalhar de graça para o Governo. Por estes dias, Larry passa mais tempo deitado nos peitoris das janelas de Downing Street do que a caçar ratos, mas é uma ferramenta importante de relações públicas para o Governo.

“O Larry definitivamente foi explorado por toda a gente na política. Julgando pelos meus seguidores, somos todos doidos por ele. Sabem, há fotos do primeiro com o gato perto dele ou algo assim e sem o Larry eles estariam perdidos”, comenta o fotojornalista político Steve Back.

Apesar de já ter sido o alvo da ira de Larry algumas vezes, Back afirma que ele é “muito querido” e “sem dúvida, uma arma de relações públicas para todos em Downing Street”.

Os gatos na arena política dão sempre um toque de humor e ajudam a humanizar a imagem dos políticos. O fenómeno não é exclusivo do Reino Unido: quem se lembra de quando Zé Albino, o gato de Rui Rio, se tornou um dos protagonistas da campanha eleitoral em 2022?

Talvez a solução para a popularidade derrapante de Rishi Sunak seja fazer umas festinhas a Larry à frente das câmaras. “Acho que se Rishi saísse pela porta da frente quando as coisas não estivessem muito boas e de repente pegasse no Larry e dissesse: ‘Olá, pessoal’, isso mudaria toda a face das coisas. Ele é poderoso, o Larry é um produto poderoso”, remata Back.

Adriana Peixoto, ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.