Galileu usou um pseudónimo nas suas obras. Para troçar de outros filósofos

Antes dos cientistas terem Twitter (ou de este sequer existir) e endereços de e-mail, os filósofos usavam os tratados ou dissertações onde expunham as suas conclusões para troçar das ideias e opiniões uns dos outros.

Acontece que Galileu Galilei – pai do método científico moderno – pode ter recorrido a pseudónimos para assinar os seus, pelo menos é o que o investigador Matteo Cosci parece querer provar.

Para compreender o contexto da descoberta, precisamos de viajar até há 418 anos. Durante mais de 17 séculos, como consequência da influência e poder da Igreja Católica, a população acreditava na visão Aristotélica-Ptolemaica do Universo: ou seja, a Terra está no seu centro e as estrelas estão fixas à abóbada do céu.

No entanto, diz o IFLS, o avistamento, em 1604, de uma supernova (ainda que não com este nome na altura) mudou tudo.

O objeto tem o nome de Johannes Kepler, que escreveu sobre as observações no seu livro, De Stella nova in pede Serpentarii.

Ainda assim, a primeira pessoa a registar as observações na Europa foi o filósofo Lodovico delle Colombe, um aristotélico convicto que acreditava que a supernova não era nova, mas que tinha estado lá sempre, só que não visível.

Galileu, por sua vez, não acreditava que fosse esse o caso e decidiu confrontar delle Colombe com uma reflexão chamada “Le Considerazioni Astronomiche di Alimberto Mauri” – A Reflexão Astronómica de Alimberto Mauri.

A questão é: quem é Alimberto Mauri? Galileu, claro está. A suspeita já existe há muito tempo, mas a ligação mais clara entre este o texto e o cientista foi uma carta assinada pelo próprio Galileu falando sobre a peça. Infelizmente, essa acabou por ser uma falsificação, criada no século XIX pelo falsificador em série Tobia Nicotra. Assim, embora parecesse óbvio que a obra era de Galileu, tal não pôde ser provada, até agora.

Cosci, da Università Ca’ Foscari Venezia, olhou para as notas que Galileu escreveu na altura e ficou impressionado com uma em particular, onde o cientista se queixa que delle Colombe falou com desprezo dele. Cosci pesquisou o texto de delle Colombe e notou que Galileu nunca é nomeado.

Alimberto Mauri, contudo, é nomeado, tal como um certo Cecco (outro pseudónimo utilizado por Galileu foi Cecco da Ronchitti), bem como uma referência a “um certo médico em Pádua” – onde Galileu estava a ensinar e a trabalhar. Cosci concluiu que a nota é o próprio Galileu a confirmar que ele era o autor.

Então, porquê usar um pseudónimo? Não terá sido para evitar o escrutínio da Igreja, o que aconteceria mais tarde. Na verdade, foi para procurar um novo patrono, não na República Veneta, mas na própria Roma.

A Considerazioni Astronomiche acrescenta à já vasta literatura de Galileu. Nela, ele discutiu a nova estrela, montanhas na Lua, e tenta explicar o movimento dos corpos no espaço.

Estes são alguns dos fundamentos a partir dos quais as suas observações astronómicas iriam desafiar a visão do universo que tem sido aceite há quase 2.000 anos.

ZAP //

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