Anulada a publicação de 10 mil artigos científicos – e estima-se que o número real seja muito maior. A fraude espalhou-se pelas revistas científicas.
O dia 1 de Abril deixou de ser (tão) frequente em artigos com conteúdo falso, nos últimos anos.
Portugal é um dos vários países onde diversos meios de comunicação social aproveitam este dia para publicar notícias falsas.
No entanto deixámos – o ZAP incluído – de assinalar o 1 de Abril com notícias falsas porque as notícias falsas já abundam ao longo do resto do ano.
Abundam no jornalismo e na Ciência.
Nesta segunda-feira a revista Visão recuperou o número: 10 mil artigos científicos foram retirados em 2023. Mas estima-se que o número real tenha sido muito maior.
Foram apagados porque eram inválidos: resultados fabricados ou adulterados, plágio ou erros graves. Todos eram fraude.
É um escândalo internacional que se agrava todos os anos, alertaram cientistas em declarações ao jornal The Guardian.
É colocada em causa a investigação médica, é prejudicado o desenvolvimento de medicamentos e comprometida a investigação académica.
Segundo o professor Dorothy Bishop, de Oxford, a situação é “terrível” e está a piorar ano após ano: “a quantidade de artigos fraudulentos está a criar problemas sérios para a ciência. Em muitos campos, está a tornar-se difícil construir uma abordagem cumulativa de um assunto, porque não temos uma base sólida de resultados fiáveis”.
A China está na origem deste fenómeno: jovens médicos e cientistas em busca de promoção eram obrigados a publicar artigos científicos. Organizações paralelas – conhecidas como “fábricas de artigos” – começaram a fornecer trabalhos fabricados para publicação em revistas científicas locais.
A tendência espalhou-se e acentuou-se entretanto na Índia, Irão, Rússia e outros antigos países da União Soviética.
Aqui abundam os cientistas que tentam elevar a sua carreira para outro patamar, publicando artigos científicos falsos.
As “fábricas de artigos” conseguiram estabelecer os seus próprios agentes como editores convidados, que depois permitem a publicação de muitos trabalhos falsos. Pelo meio, há subornos a directores de revistas científicas.
Então e a revisão feita pelos pares? Esses pares também são pagos para deixar passar o artigo.
E os números do estudo publicado no final do ano são reveladores: mil artigos científicos falsos em 2013, 4 mil em 2022 e este “salto” para 10 mil no ano passado. 2024 deverá ser ano de novo recorde.
Caraças! Já não se pode acreditar em nada!