Anderson Lepeco

Tinha mandíbulas como foices para triturar as presas. Um fóssil de uma formiga com milhões de anos reescreve toda a história deste animal.
“A nossa equipa descobriu uma nova espécie de formiga fóssil que representa o mais antigo registo geológico indiscutível de formigas”, começa por explicar o cientista Anderson Lepeco à SciTechDaily.
“O que torna esta descoberta particularmente interessante é o facto de pertencer à extinta ‘formiga do inferno’, conhecida pelas suas bizarras adaptações predatórias. Apesar de fazer parte de uma linhagem antiga, esta espécie já apresentava caraterísticas anatómicas altamente especializadas, sugerindo comportamentos de caça únicos”, conta.
“Apesar de já terem sido descritas formigas-do-inferno em âmbar, esta foi a primeira vez que pudemos visualizá-las num fóssil de rocha”, disse Lepeco.
Segundo os investigadores, este fóssil desafia as ideias que tínhamos sobre a evolução das formigas e a sua distribuição histórica. Isto porque o facto de ter sido encontrada no Brasil revela que a espécie já se espalhara por regiões que antes desconhecíamos.
Mais o mais interessante, contam os autores do estudo publicado este mês na revista Current Biology, é mesmo a morfologia deste animal. — esta espécie tinha mandíbulas em forma de foice, que destruíam as presas.
Ao contrário das formigas modernas, com mandíbulas que se movem lateralmente, esta espécie possuía mandíbulas que avançavam paralelamente à cabeça e uma projeção facial anterior aos olhos. Conseguiram investigar tudo isso graças à tomografia microcomputada, uma técnica de imagem 3D que usa raios X para visualizar o interior de um objeto.
“Encontrar uma formiga anatomicamente especializada como esta, de há 113 milhões de anos, desafia as nossas suposições sobre a rapidez com que estes insetos desenvolveram adaptações complexas. A morfologia intrincada sugere que mesmo estas formigas mais antigas já tinham desenvolvido estratégias predatórias sofisticadas, significativamente diferentes das suas congéneres modernas”.