Fonte “curativa” em Itália tinha um homem nu, um adivinho e um demónio bom

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Achados datam de há mais de 2.000 anos. São exemplo da mistura de tradições etruscas e romanas, que veneravam a fonte como um local sagrado. Descoberta está “entre as mais significativas do século”.

Arqueólogos em Itália descobriram artefactos antigos “verdadeiramente extraordinários”, como estátuas de bronze e oferendas rituais, submersos numa fonte termal em San Casciano dei Bagni, cerca de 120 quilómetros a noroeste de Roma.

Os achados, que datam de há mais de 2.000 anos, lançam luz sobre as práticas espirituais dos etruscos e romanos que veneravam a fonte como um local sagrado.

Os etruscos, civilização que prosperou em Itália desde há cerca de 2600 anos, até à sua assimilação pela República Romana, começaram a utilizar a nascente para oferendas por volta do século III a.C. A nascente terá continuado a servir como local ritual mesmo após o domínio romano, com inscrições em latim que louvavam o imperador romano como uma figura divina.

Desde 2019, as escavações no local tem revelado achados fascinantes: duas dúzias de esculturas de bronze e milhares de moedas e, mais recentemente, estátuas de serpentes, algumas com até 90 centímetros de comprimento, que se acredita terem sido colocadas na fonte como protetores simbólicos. A maior delas, a “cobra agatodemónio” (ou demónio bom) seria a protetora da nascente.

Mas há mais. Um touro de bronze, frascos de vidro para unguentos, lâmpadas ornamentadas e uma estátua cortada ao meio de um homem nu com a inscrição “Gaius Roscius”, potencialmente ligada aos reputados poderes curativos da fonte, também estavam submersas na fonte “curativa”.

Um achado que intrigou particularmente os arqueólogos foi uma pequena estátua de uma criança sacerdote, ou áugure, a segurar uma bola de adivinhação, com uma inscrição etrusca indecifrada na sua perna.

SABAP-SI Comune di San Casciano dei Bagni Unistrasi/ Claudia Petrini

A perna direita da criança tem uma inscrição etrusca não decifrada.

Os artefactos realçam a mistura de tradições etruscas e romanas e o papel dos santuários de cura na sociedade antiga, explicaram os investigadores em comunicado.

O sítio também produziu restos orgânicos bem preservados, tais como pinhas, galhos e milhares de ovos, alguns tão intactos que as gemas permanecem visíveis. Estes objetos desempenharam provavelmente um papel em rituais que simbolizavam o renascimento e a regeneração, explicam os investigadores.

Ao Live Science, Alexandra Carpino, professora de história da arte na Universidade do Norte do Arizona, descreveu as descobertas como “verdadeiramente extraordinárias” e entre as mais significativas do século XXI: “nenhum outro local revelou e continua a revelar uma diversidade tão grande de dedicatórias em bronze de alta qualidade, que fornecem uma imagem mais completa do papel que os santuários de cura desempenhavam na vida dos adoradores”.

A equipa arqueológica continua a investigar o local.

Tomás Guimarães, ZAP //

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