Fascinantes — e tóxicos — “dragões azuis” invadem praias do Texas

Sylke Rohrlach/Flickr

Glaucus atlanticus

“Podem olhar, mas não tocar”. Parecem Pokémons, são tóxicos, alimentam-se dos tentáculos de caravelas-portuguesas e estão a “tomar banho” nas praias do Texas, nos EUA.

O oceano é povoado por inúmeras criaturas misteriosas, muitas delas raramente avistadas pelos seres humanos.

Se pesquisarmos “dragões azuis” na Internet — ou lesmas-do-mar azuis ou até anos do mar —, encontramos a Glaucus atlanticus.

Segundo a ONG One Earth, a queimadura do dragão azul pode provocar náuseas, dor, vómitos, dermatite alérgica aguda e hiperpigmentação pós-inflamatória.

A espécie deslumbrante (e urticante) foi recentemente encontrada nas praias do Texas e está a mexer com as spring break (férias de primavera) de muitos.

Mas estes dragões azuis não chegaram ao Texas por mero acaso. Tendem —literalmente — a seguir a corrente, mas não é por desleixo ou preguiça. Simplesmente indica que não é uma espécie particularmente robusta, explica o biólogo marinho e fundador da Sociedade de Conservação MarineBio David Campbell.

“Eles são nadadores bastante fracos e vão para onde o vento e as correntes os levarem”, explica Campbell. E, para onde quer que estas criaturas vão, flutuam sempre de costas.

Os dragões azuis têm um aspeto fascinante, mas são perigosos. Os seus avistamentos alertaram organizações texanas a emitir sinais de cautela aos banhistas desprevenidos — como fez o Instituto de Pesquisas Harte, dedicado à conservação ambiental no Golfo do México.

Olhe, mas não toque

“Atenção: não toque no dragão azul!”, escreveu no Facebook o biólogo marinho da Universidade A&M do Texas em Corpus Christi e diretor comunitário do Instituto Harte, Jace Tunnell.

Tunnell destacou que os ventos da primavera no hemisfério norte provocaram o aparecimento de certas espécies, como a caravela-portuguesa, o botão-azul (uma criatura semelhante à alforreca) e os dragões azuis, “raramente observados” na costa.

“A lesma-do-mar Glaucus atlanticus, ou dragão azul, é um nudibrânquio pelágico que flutua na superfície do oceano”, diz Tunnell.

“Normalmente medem apenas cerca de 2,5 cm de comprimento e alimentam-se das toxinas de espécies muito maiores, como as caravelas-portuguesas, que possuem tentáculos de cerca de 9,1 metros.”

Um Pokémon perigoso

Tanto observadores como biólogos marinhos parecem concordar num ponto: estas criaturas azuis e brilhantes, com forma de pássaro, lembram um personagem da série Pokémon. E o método utilizado pelos dragões azuis para afastar inimigos é quase tão fascinante quanto a sua aparência.

Alimentam-se dos tentáculos das caravelas-portuguesas e extraem as suas células urticantes; depois, armazenam-nas nos seus apêndices para usar mais tarde e libertam-nas quando se sentem ameaçados.

“É isso que os torna tão perigosos, pois podem libertar todas as células urticantes de uma só vez”, explica. “Isso pode ser três vezes mais intenso do que a picada da caravela-portuguesa”.

Campbell já sentiu essa dor na primeira pessoa. “Pisei um deles numa praia na Austrália quando era criança e o meu pai até hoje tem cicatrizes nas mãos por tentar me ajudar”, conta ele.

Como evitar o perigo

Atualmente, esta espécie está a aparecer nas praias do Texas em grandes quantidades, o que torna “absolutamente necessário” alertar as pessoas para que não as toquem, salienta Tunnell.

“As pessoas fazem coisas muito parvas” com estas belas, mas perigosas criaturas, “e tocar em coisas pequenas e bonitas é muito comum”, confessa, sublinhando que há cada vez mais turistas a tirar fotos ao lado de animais perigosos – e até de espécies assustadoras, como o polvo-de-anéis-azuis, o cefalópode mais mortal que existe.

As redes sociais e o desejo de partilhar imagens interessantes de criaturas selvagens levam as pessoas a aproximar-se demasiado de animais selvagens com os quais não estão familiarizadas. No que toca aos dragões azuis, a educadora ambiental Isabel McClelland, de Maryland, espera que “saber de onde vêm as suas toxinas” possa “evitar que as pessoas os manuseiem”.

Mas a especialista acredita que as redes sociais tendem a ser mais uma força positiva para a preservação da vida selvagem. Afinal, existem inúmeras organizações a publicar nas redes sociais, desde agências ambientais a nível local, estadual e federal até centros independentes de conservação da natureza e organizações sem fins lucrativos.

Observar os dragões azuis é maravilhoso, mas os especialistas reforçam que as pessoas devem fazer o seguinte: olhar, não tocar e, se possível, fotografar a uma distância segura.

ZAP // BBC

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