Faltava uma peça para decifrar o mistério de um naufrágio. Eram as amêndoas

Kyrenia Ship Excavations

Cientistas a investigarem os destroços do Kyrenia, no largo da costa norte de Chipre em 1965

Uma equipa de investigadores descobriu na década de 1960 milhares de amêndoas entre as cargas do famoso naufrágio Kyrenia da era helenística.

As amêndoas, combinadas com amostras de madeira limpa e com os conhecimentos da equipa em matéria de modelização e datação por radiocarbono, permitiram agora identificar a cronologia mais provável do naufrágio Kyrenia.

Segundo o CienciaPlus, o Kyrenia tem um legado histórico por ter sido o primeiro grande navio do período helenístico a ser encontrado, em 1965, com o casco quase intacto.

Num novo estudo, publicado esta quarta-feira no PLOS One, os investigadores desenvolveram um novo método para limpar o polietilenoglicol (PEG) da madeira — e demonstraram-no em amostras da era romana.

“Retirámos o PEG da madeira, datámo-lo por radiocarbono e mostrámos que, em cada caso, obtivemos uma idade de radiocarbono consistente com a idade conhecida”, diz o primeiro autor do estudo Sturt Manning, em comunicado.

Esta técnica serviu para remover o PEG de uma amostra do Kyrenia que tinha sido analisada há 10 anos, mas sem sucesso na sua datação. A equipa datou também um pedaço de madeira que foi recuperada do naufrágio.

As datas mostraram que os anéis de árvores preservados mais recentes destas madeiras cresceram em meados do século IV a.C..

Além disto examinaram os seus artefactos, incluindo a cerâmica e as moedas, com destaque para os materiais orgânicos, incluindo um astrágalo (osso do tornozelo de mamíferos utilizados em jogos e rituais em várias culturas antigas) e milhares de amêndoas encontradas em frascos de cerâmica.

Estas amêndoas foram cruciais na datação da última viagem do navio.

A equipa aplicou uma modelização estatística combinada com a dendrocronologia das amostras de madeira para obter um nível de datação mais precisa que os resultados anteriores.

A modelação identificou o intervalo de datas mais provável para a viagem final entre 305-271 a.C. (95.5% de probabilidade) e 286-271 a.C. (68.3% de probabilidade).

No entanto, estas datas não coincidiam com a curva de calibração de radiocarbono, que se baseia em anéis de árvores utilizada para converter as medições de radiocarbono em datas do calendário para o hemisfério norte.

Com a medição de amostras de sequoias e carvalhos de um ano de idade, a equipa clarificou o pico na produção de radiocarbono causado por pouca atividade solar em cerca de 360 a.C. — e a cronologia do naufrágio do Kyrenia.

Soraia Ferreira, ZAP //

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