Fayyaz Ahmed / EPA

Passageiros resgatados do Jaffar Express
Centenas de pessoas foram feitas reféns pelo grupo independentista paquistanês da região do Baluchistão. O que se passa e o que querem os terroristas?
“Sustivemos a respiração durante todo o tiroteio, sem saber o que iria acontecer a seguir”, disse Ishaq Noor, um dos passageiros a bordo do Jaffar Express, à BBC.
Tudo aconteceu esta terça feira, quando o Exército de Libertação Baloch (ELB) fez explodir uma linha ferroviária na região de Baluchistão e atacou um comboio, o Jaffar Express, onde fez reféns os 450 passageiros a bordo.
Segundo avança o The Guardian, esta quarta feira ainda continuam presos no comboio cerca de 130 reféns. Para os resgatar, as forças de segurança paquistanesas mataram 27 militantes do grupo armado, e o ELB, por sua vez, diz ter matado 30 agentes de segurança e abatido um drone.
O comboio foi imobilizado num túnel, onde ainda estão a acontecer confrontos entre o grupo, considerado terrorista pelos EUA e pelo Paquistão, e as autoridades paquistanesas. O Jaffar Express fazia a ligação entre a província de Quetta e a cidade de Peshawar. Quetta localiza-se na problemática região do Baluchistão.
“Durante as últimas semanas, estivemos sob grande tensão, pois havia um ar de medo de que algo estivesse prestes a acontecer”, diz um habitante de Quetta à BBC. Isto porque não se trata do único ataque deste tipo na região. Afinal, o que se passa no Baluchistão?
O que é o Baluchistão e o que quer o ELB?
O Baluchistão é uma região controversa, situada no lado oeste do território paquistanês. Do outro lado da fronteira, já no Irão, ainda existe uma parte do Baluchistão — e isto é um problema, como veremos de seguida.
Há já várias décadas que o ELB tenta independentizar o Baluchistão, considerado um grupo terrorista pelo próprio país. Os seus militantes argumentam que esta região pertence “à força” ao Paquistão.
Existem cerca de 9 milhões de paquistaneses de etnia baloch, a mais pobre da região, ainda que o território seja rico em recursos naturais, em especial hidrocarbonetos, que ficam nas mãos de Islamabad.
É frequente o ELB lançar ataques contra projetos de recursos naturais, por exemplo, por considerarem que estão a ser injustamente extraídos pelo Paquistão. A região montanhosa é palco de pequenos assaltos há vários anos, mas só no ano passado, em agosto, é que um ataque maior do grupo armado acabou por matar 70 pessoas.
Desde então, a violência tem escalado, e os terroristas já mataram cerca de 1600 pessoas só no ano passado, segunda avança o The Independent.
Por outro lado, a Amnistia Internacional tem condenado também as autoridades paquistanesas, que já protagonizaram episódios de violência sobre manifestantes pacíficos pela independência do Baluchistão.
Mas o que querem os baloch com estes ataques? Em resumo, ver as suas vontades independentistas satisfeitas. “Se as nossas exigências não forem satisfeitas dentro do prazo estipulado ou se o Estado ocupante tentar qualquer ação militar durante este período, todos os prisioneiros de guerra serão neutralizados e o comboio será completamente destruído“, ameaçou esta quarta feira o grupo baloch.
Xiitas vs. sunitas e um lugar de conflito permanente
A região do Baluchistão sofre ainda há vários anos com ataques iranianos. Isto porque o ovo baloch, tal como os curdos, são minorias étnicas no Irão, um país muçulmano xiita.
Os baloch, tal como a maior parte dos paquistaneses, são sunitas, o que gera um conflito fronteiriço entre os dois países, com ataques mútuos. A região tem ainda sido palco de sangrentos conflitos entre fações islamitas extremistas — a região montanhosa é refúgio para vários grupo jihadistas.
Com todos os múltiplos conflitos a que a região tem assistido, o desejo de independência é só mais um problema para os habitantes locais, que vivem com receio de novos ataques.
O ELB disse agora que o sequestro foi “uma resposta direta à ocupação colonial do Baluchistão pelo Paquistão durante décadas e aos crimes de guerra implacáveis cometidos contra o povo baloch”.
Muculmanos…