O exército israelita informou hoje a população do norte da Faixa de Gaza que tem até às 16:00 locais (14:00 em Lisboa) para se deslocar para sul do enclave ao longo de uma série de estradas específicas.
Na mensagem, Israel garante que essas vias não serão bombardeadas até ao final do prazo.
A informação surge horas depois de Israel ter dado um prazo de 24 horas aos 1,1 milhões de pessoas que vivem no norte da faixa, na madrugada de sexta-feira, antecipando uma intensificação dos ataques ao enclave palestiniano.
O chefe da divisão de meios de comunicação árabes das IDF, coronel Avichay Adraee, publicou na conta pessoal na rede social X, antigo Twitter, que os residentes poderão viajar ao longo da estrada central de Saladino e da rota que liga as avenidas costeiras de Daldul e Al Sana’a “sem qualquer perigo” para Khan Younis, a principal cidade no sul do enclave.
“Se estão interessados na vossa própria segurança e na dos vossos entes queridos, dirijam-se para sul, de acordo com as instruções”, advertiu o coronel.
A iniciativa foi rejeitada pelas Nações Unidas e por várias organizações não-governamentais internacionais, que a consideram uma deslocação forçada que conduzirá a uma catástrofe humanitária e a uma violação do direito humanitário internacional para os 1,1 milhões de habitantes destas populações.
Israel, por outro lado, argumenta que se trata de uma medida de proteção dos civis, utilizados como escudos humanos pelas milícias palestinianas.
“Os líderes do Hamas estão a tomar conta de si próprios e a proteger-se dos ataques na região”, disse o coronel Adraee.
Na sexta-feira, o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, informou que pelo menos 70 palestinianos morreram e 200 ficaram feridos num bombardeamento israelita precisamente no corredor de saída aberto na estrada de Saladino, a principal via de trânsito de veículos do enclave.
No entanto, milhares de palestinianos continuam a tentar fugir do norte da Faixa de Gaza, com famílias em carros, camiões e carroças puxadas por burros cheias de bens a apinharem-se numa estrada principal em direção ao sul da cidade de Gaza, enquanto os ataques aéreos israelitas continuam a atingir o território sitiado.
Na sexta-feira, as forças armadas israelitas afirmaram que o exército efetuou incursões temporárias em Gaza para combater os militantes e para procurar vestígios de cerca de 150 pessoas – incluindo homens, mulheres e crianças – raptadas no durante o ataque do movimento islamita Hamas ao sul de Israel, a 7 de outubro.
O ataque do Hamas matou mais de 1300 israelitas, a maioria dos quais civis, e cerca de 1.500 militantes do Hamas foram mortos durante os combates, segundo o governo israelita.
Ao apelar à retirada, os militares israelitas afirmaram que tencionavam atacar os esconderijos subterrâneos do Hamas nos arredores da cidade de Gaza. Mas os palestinianos e alguns responsáveis egípcios receiam que Israel pretenda, em última análise, expulsar a população de Gaza através da fronteira sul com o Egito.
O Hamas, considerado um movimento terrorista pela União Europeia (UE) e pelos Estados Unidos, e que governa em Gaza desde 2007, pediu à população para ignorar a ordem de retirada, mas as famílias de Gaza enfrentam o dilema de decidir se partem ou se ficam, sem nenhum lugar seguro.
Os ataques israelitas arrasaram quarteirões inteiros da cidade e Gaza foi isolada de alimentos, água e medicamentos, além de um apagão generalizado.
O Ministério da Saúde palestiniano declarou que pelo menos 1900 habitantes de Gaza, na sua maioria civis, e mais de 600 crianças, foram mortos nos ataques israelitas no enclave densamente povoado.
No total, o Ministério da Saúde palestiniano avança que 2269 palestinianos em Gaza e na Cisjordânia morreram e 9814 ficaram feridos.
Mais de 1300 edifícios foram completamente destruídos na Faixa de Gaza, anunciou ainda a ONU, após uma semana de intensos bombardeamentos pelas forças israelitas.
Segundo o Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (OCHA), que cita dados do Ministério das Obras Públicas de Gaza, foram destruídos 1324 edifícios residenciais e não residenciais, num total de 5540 habitações, enquanto 3750 outras casas foram danificadas a ponto de se tornarem inabitáveis.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, afirmou na sexta-feira que os atuais ataques a Gaza são apenas “o começo”.
ZAP // Lusa
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