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Foram 5 segundos. Espanha “já sabe” causas do apagão (e sabia do risco há 2 meses)

Party of European Socialists / Flickr

A presidente de Redeia, Beatriz Corredor

Há especialistas que acreditam que o excesso de produção de energia solar pode ter causado uma sobretensão na rede e gerado o apagão, mas a rede espanhola afasta esta hipótese.

O apagão inédito, que afetou toda a Península Ibérica esta segunda-feira, deverá ter tido origem na súbita queda de 15 gigawatts (GW), equivalente ao consumo de 11,5 milhões de lares.

Segundo Eduardo Prieto, diretor da Red Eléctrica Espanhola (REE), tudo aconteceu num espaço de 5 segundos. Inicialmente, notou-se uma quebra de geração de energia na região sudoeste de Espanha, da qual o sistema recuperou.

No entanto, 1,5 segundos depois, deu-se uma segunda perda de produção; e 3,5 segundos mais tarde houve uma “disrupção na conexão” entre Espanha e França, que isolou a Península Ibérica da rede elétrica europeia.

Logo depois, houve um desligamento em massa das centrais renováveis espanholas, à qual o sistema ibérico não conseguiu “sobreviver”, já que se deu uma falha abrupta  de 60% da energia então consumida em Espanha.

Portugal, que no momento importava cerca de 30% da sua eletricidade de Espanha, também foi afetado pela falha sistémica.

Há especialistas que acreditam que a instabilidade da produção solar, mais difícil de gerir tecnicamente e altamente dependente de fatores meteorológicos, pode ter sido a causa da oscilação.

Os peritos indicam que o excesso de energia fotovoltaica, especialmente nos períodos de maior radiação solar, tem ultrapassado a capacidade de consumo e armazenamento, como já se tinha verificado dias antes do apagão. A sobretensão na rede terá feito disparar os dispositivos de proteção e gerado o apagão.

No entanto, Beatriz Corredor, presidente da operadora espanhola Red Eléctrica,  considera que “não é verdade, não é correto” associar o apagão à energia solar.

Numa entrevista à rádio espanhola Cadena SER, Corredor repetiu que “o sistema elétrico espanhol é o melhor da Europa” e que a operadora ainda está a apurar o que aconteceu.

Beatriz Corredor avança ainda que a causa está “mais ou menos localizada” mas que ainda é necessário analisar “milissegundo a milissegundo” o que aconteceu. A responsável garante ainda que um apagão deste género “não voltará a acontecer porque aprendemos“.

Sabemos a causa e localizámo-la mais ou menos, mas enquanto não forem analisados todos os dados provenientes dos geradores não podemos saber com precisão”, enfatizou, citada pelo El Mundo.

A REE também descartou qualquer ciberataque, embora o caso esteja a ser analisado pela Audiência Nacional e pelos serviços secretos espanhóis.

O governo espanhol garantiu total transparência na investigação, prometendo apurar responsabilidades junto dos operadores privados. O primeiro-ministro Pedro Sánchez foi categórico: “O que sucedeu não pode voltar a repetir-se.”

Rede espanhola sabia do risco há 2 meses

Recorde-se que casos semelhantes, com menor impacto, já tinham sido registados, como o ocorrido a 22 de abril, quando uma refinaria da Repsol foi obrigada a suspender operações, e os comboios de alta velocidade enfrentaram falhas devido ao excesso de tensão elétrica.

O relatório anual da REE, divulgado há apenas dois meses, já apontava para o “perigo hipotético” de um apagão generalizado. O documento aponta possíveis “desconexões de geração” de energia elétrica que arriscam ser “severas” e afetar “significativamente” o abastecimento devido à elevada penetração de fontes de energia renovável.

A Redeia, empresa-mãe da REE, também emitiu alertas devido ao encerramento de centrais a carvão, gás natural e nucleares em Espanha, que deixaram o sistema elétrico do país mais vulnerável a imprevistos.

Sobre este relatório, Beatriz Corredor afirma que o documento pertence ao Conselho de Administração, sem competências técnicas, a quem não cabe fazer alertas de segurança.

Especialistas divididos

Em Portugal, o governo anunciou medidas para aumentar a resiliência da rede, incluindo o reforço da capacidade de arranque autónomo em mais centrais elétricas, como as do Baixo Sabor e Alqueva.

Um antigo responsável da REN, ouvido pelo DN, acredita ainda que a duração do apagão em Portugal poderia ter sido encurtada de 11 para 3 horas caso o país tivesse mais centrais de arranque autónomo. “Sempre que desaparece potência, algo tem de entrar imediatamente para o seu lugar.

As fontes intermitentes como a eólica ou solar não o permitem, mas as centrais de ciclo combinado, a gás ou carvão, sim — desde que estejam em funcionamento, mesmo que apenas a meia carga”, explicou.

No entanto, há peritos que discordam. “A intensidade do que aconteceu em Espanha não deu qualquer capacidade de resposta a Portugal. É como um vírus: onde toca, apaga a central”, aponta outro ex-responsável operacional na área da energia.

Ouvido pelo Jornal de Negócios, Nuno Ribeiro da Silva, ex-secretário de Estado da Energia e antigo presidente da elétrica espanhola Endesa em Portugal, considera que a teoria sobre o excesso de energia solar “não faz sentido nenhum” e não descarta um possível erro humano.

“Portugal já operou vários dias seguidos só com renováveis e não aconteceu nada. Se havia solar a mais em Espanha naquele dia, a responsabilidade de acautelar a situação era do operador do sistema“, defende.

ZAP //

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