EUA anunciam suspensão de tratado nuclear com a Rússia

O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, confirmou esta sexta-feira que os Estados Unidos vão retirar-se do tratado de armas nucleares de médio alcance e o Presidente Donald Trump responsabilizou a Rússia, por violar esse acordo.

Esta sexta-feira, Mike Pompeo confirmou que os Estados Unidos suspendem a partir de domingo as suas obrigações com o tratado de armas nucleares de médio alcance, assinado em 1987.

Em comunicado, o Presidente Donald Trump acusou a Rússia de o ter violado “por tempo demais com impunidade, desenvolvendo secretamente e colocando em campo um sistema de mísseis proibidos, que representa uma ameaça direta aos nossos aliados e aos nossos militares no estrangeiro”.

Donald Trump afirmou que os Estados Unidos “aderiram totalmente” ao pacto por mais de 30 anos, mas que não podem continuar limitados aos seus termos enquanto a Rússia deturpa os seus termos. “Não podemos continuar a ser o único país do mundo unilateralmente vinculado ao tratado”, explicou Trump, no comunicado.

A decisão dos Estados Unidos era aguardada desde outubro de 2018, quando Donald Trump ameaçou romper o tratado de controlo de mísseis de médio alcance (conhecido pela sigla inglesa INF – Intermediate-Range Nuclear Forces Treaty), se a Rússia não destruísse o míssil Novator – que, segundo a NATO, viola o acordo de desarmamento nuclear.

Esta sexta-feira, o secretário de Estado confirmou que o país deixa de respeitar o acordo, a partir de domingo, iniciando um processo de abandono que durará seis meses.

Na quarta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, tinha voltado a pedir aos EUA para retomarem as negociações sobre o tratado, dizendo que a exigência dos EUA relativamente à destruição do Novator e “inaceitável”, alegando que o Novator tem um alcance de apenas 480 quilómetros, pelo que não viola o tratado INF (que se aplica a mísseis com alcance entre 500 e 5000 quilómetros).

A Rússia diz que nunca desrespeitou o tratado e que, pelo contrário, foram os Estados Unidos que infringiram as regras do acordo, ao produzirem uma nova ogiva nuclear para equipar mísseis intercontinentais para submarinos atómicos, que, na perspetiva de Moscovo, “aumenta o risco de uma guerra nuclear”

Tecnicamente, a retirada dos Estados Unidos entrará em vigor apenas seis meses após a notificação desta sexta-feira, deixando espaço para novas negociações que podem salvar o tratado.

No entanto, após uma reunião, esta semana em Pequim, as partes não registaram qualquer avanço na sua disputa, deixando poucas razões para pensar que qualquer dos lados mudará a sua posição sobre o pacto.

As cinco maiores potências mundiais (EUA, China, Rússia, Reino Unido e França) reuniram-se esta semana em Pequim para discutir a política nuclear e, durante esse encontro, a vice-secretária de Estado dos EUA encarregada do controlo de armas e de segurança internacional disse existir falta de transparência por parte da China e dos EUA sobre os seus planos nucleares.

Em resposta, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Geng Shuang, disse que o governo chinês está “comprometido com o progresso das negociações” à volta dos tratados de desarmamento nuclear.

O vice-ministro dos Negócios estrangeiros russo, Sergey Riabkov, disse que o seu governo está igualmente empenhado em travar a guerra ao armamento e que “muitas questões permanecem sem solução apenas devido à falta de vontade política”, considerando que os EUA não têm tido uma atitude correta perante os parceiros de acordo.

Mas a perceção da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) é diferente, apontando o dedo a Moscovo, por não se empenhar em encontrar saídas para o impasse negocial à volta do tratado INF.

Não houve nenhum progresso real, porque a Rússia não mostrou vontade de mudar a sua posição”, afirmou esta semana o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenbert, no final de uma reunião de embaixadores, em Bruxelas, para discutir as divergências da organização com o governo russo.

O tratado INF foi assinado em Washington entre os EUA e a União Soviética, em 1987, e entrou em vigor em 1988, estipulando a eliminação de todos os mísseis convencionais e nucleares com alcance entre 500 e 5.000 quilómetros.

Este tratado é considerado uma pedra angular no controlo de uma nova corrida às armas nucleares e o seu abandono constituiu uma ameaça que preocupa várias organizações internacionais.

// Lusa

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