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Há uma relação entre a remoção do apêndice e a doença de Parkinson

Novas pesquisas descobriram uma ligação intrigante, embora relativamente pequena, entre a doença de Parkinson e a remoção do apêndice. Embora ainda não esteja claro o que isso pode exatamente significar, é certo que este não é um motivo para evitar uma apendicectomia, caso se necessite de uma.

A doença de Parkinson é um distúrbio neurodegenerativo que atinge cerca de 20 mil portugueses. No início, causa tremores leves que podem passar completamente despercebidos mas, com o tempo, as pessoas perdem a capacidade de andar, falar e comer sem dificuldade. Nos estágios posteriores, até a mente pode ser afetada, levando à demência, lê-se num artigo do Gizmodo, divulgado na quinta-feira.

Embora existam medicamentos e tratamentos para controlar os sintomas – como a estimulação cerebral profunda – e a doença em si não seja fatal, os doentes com Parkinson morrem mais cedo do que a população em geral, muitas vezes devido a complicações relacionadas com a doença.

Segundo o artigo do Gizmodo, sabe-se que a alfa-sinucleína está intimamente ligada ao Parkinson, uma vez que os aglomerados tóxicos dessa proteína – apresentados de forma diferente da versão normal e designados corpos de Lewy –, são vistos em abundância nos cérebros dos pacientes.

Acredita-se que esses aglomerados tóxicos da alfa-sinucleína ajudem a destruir os neurónios responsáveis ​​pela produção de dopamina. Mas enquanto alguns casos de Parkinson estão diretamente ligados a mutações herdadas dessa proteína, ainda não se sabe a razão pela qual ocorrem a maior parte dos casos.

Algumas pesquisas, no entanto, mostraram que a proteína anormal não é encontrada apenas no cérebro de pessoas com Parkinson, mas também está no coração. A partir dessas, foi criada uma teoria que indica que o intestino – já conhecido por afetar o cérebro e vice-versa – poderia desempenhar um papel crucial no desenvolvimento da doença.

Apesar da sua reputação de órgão vestigial, o apêndice entra nesse quadro visto. Caso exista uma conexão entre a perda o apêndice – como acontece com muitas pessoas quando o órgão infetado – , e o Parkinson, isso prova que o intestino, como um todo, está causalmente ligado à doença.

Em outubro de 2018, investigadores estudaram dados populacionais de mais de um milhão de suecos, descobrindo que as pessoas que tiveram o seu apêndice removido tinham uma probabilidade ligeiramente menor de desenvolver Parkinson. Contudo, outras pesquisas mostraram que não havia uma ligação clara entre os dois eventos.

Então, o pesquisador Gregory Cooper e a sua equipa da Case Western Reserve University, em Ohio (Estados Unidos), decidiram investigar uma população ainda maior, estudando os registos eletrónicos de saúde de mais de 62 milhões de americanos.

Ao contrário do estudo de outubro, identificaram um risco cerca de três vezes maior de Parkinson entre os indivíduos que tiveram o apêndice removido. Apesar de o Parkinson ser mais comum na velhice, um risco adicional de remoção do apêndice foi visto mesmo naqueles que o desenvolveram numa idade mais jovem e em diferentes etnias.

Em declarações ao Gizmodo, Gregory Cooper indicou que este é o maior estudo até hoje realizado sobre a ligação entre o apêndice e o Parkinson.

Mas isso não significa que as pessoas não devem fazer uma apendicectomia, caso necessitem. “Mesmo com o risco triplo, menos de 1% dos indivíduos que fizeram uma apendicectomia desenvolveram Parkinson. É um risco muito baixo e não deve dissuadir ninguém a fazer uma apendicectomia”, disse Gregory Cooper.

E, mesmo que perder o apêndice realmente cause um risco maior de Parkinson, o investigador acrescentou que, provavelmente, não valeria a pena abandonar a cirurgia, devido aos riscos imediatos – como o de vida – de um apêndice infetado.

Independentemente disso, o estudo oferece mais evidências circunstanciais sobre o envolvimento do intestino com a doença de Parkinson, seja por meio da alfa-sinucleína ou qualquer outra coisa. “Acho que a maior contribuição aqui é que ainda não sabemos o que causa essa doença debilitante – e essa é apenas mais uma peça do quebra-cabeça”, frisou Gregory Cooper.

TP, ZAP //

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