As pessoas de países corruptos mentem com mais facilidade

Investigadores britânicos concluíram através de uma nova experiência que os níveis de corrupção de um país podem influenciar significativamente a honestidade da sua população.

A maior parte das pessoas provavelmente concorda que existem algumas ocasiões em que mentir até pode ter desculpa (como quando os pais dizem aos filhos que o seu animal de estimação “foi para uma quinta”).

No entanto, traçar uma linha entre o que são mentiras aceitáveis e não aceitáveis sempre foi uma questão complexa, que envolve uma série de argumentos ligados ao debate entre a natureza das pessoas e os seus costumes.

De acordo com os resultados de uma investigação recente, a honestidade intrínseca de uma pessoa pode ser fortemente influenciada pelo ambiente moral em que cresce, fazendo com que cidadãos de países considerados corruptos consigam mentir mais facilmente.

Para conduzir este estudo, os investigadores da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, jogaram durante cinco anos um jogo muitos simples com estudantes universitários de 23 países, entre eles República Checa, Espanha, Itália, Alemanha, Polónia, Colômbia, Áustria, Reino Unido, Suécia, Holanda, Eslováquia, Geórgia, Guatemala, África do Sul, Lituânia, Malásia, Turquia, China, Tanzânia, Marrocos, Quénia, Vietname e Indonésia.

A equipa escolheu estes países para representar um vasto leque de nações com base no PRV (“prevalência de violações de regras”), um índice por eles criado com base nos níveis de evasão fiscal, políticas fraudulentas e outros indicadores de corrupção desses países.

Honestidade condicionada

A ideia era que os participantes atirassem um dado, sem que mais ninguém visse quando o faziam, e dependendo do número que saísse podiam receber, ou não, uma recompensa monetária.

Se saísse um número até cinco os estudantes tinham um prémio garantido (sendo cinco o número com a maior recompensa) mas se, por outro lado, lhes calhasse o número seis não levavam nada em troca.

Como ninguém podia ver o momento dos dados a rolar, os resultados ficaram inteiramente dependentes de quão honestos eram estes jogadores.

Embora não tenha sido possível avaliar a honestidade de cada indivíduo, ficou bem claro quais eram os níveis nacionais de honestidade de cada país mediante os resultados relatados pelos voluntários.

Isto porque, uma vez que cada número tem apenas uma oportunidade em seis de aparecer, surgiu uma prevalência estatisticamente anormal do número cinco em determinados jogadores.

Os resultados, publicados na revista Nature, sugerem que a grande frequência do número com a recompensa mais alta eram muito mais comuns em países com altos índices de corrupção como, por exemplo, Geórgia, Tanzânia, e Guatemala, em comparação com os restantes como a Áustria, Holanda e Suécia.

Segundo o estudo, os cinco países mais honestos foram Lituânia, Reino Unido, Suécia, Alemanha e Itália. Do lado oposto, Tanzânia, Marrocos, China, Turquia e Polónia foram os mais desonestos.

Bola de neve

Com base nestes resultados, os autores do estudo concluem que a honestidade intrínseca pode ser mais forte em pessoas que crescem em países onde a corrupção é invulgar.

Curiosamente, a equipa não encontrou nenhuma correlação entre o PRV e a probabilidade de relatar um cinco, o número mais alto de recompensa.

Assim, a pesquisa sugere que, embora as pessoas de países corruptos sejam mais propensas a ser desonestas, estas conscientemente também equilibram a magnitude das suas mentiras para não parecerem suspeitas.

Em muitos casos, vários participantes disseram que lhes tinha saído números como o três ou o quatro, que proporcionavam recompensas menores, mas que pelo menos lhes garantia na mesma uma nota para levar para casa.

ZAP / HypeScience

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